sábado, 16 de maio de 2020


22 DE ABRILNINGUÉM JAMAIS IRÁ ESQUECER ESSA  DATA
     ― Haviam se passado 45 dias de total isolamento, navegando sobre um mar tenebroso e sob um céu amedrontador a despejar trovões, raios e sinistras tempestades. No entanto, como reza o ditado português  –  “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe– quis o destino que, naquela tardinha,  já boca da noite,  do dia 22 de abril do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1500 , um grito se fizesse ouvir no convés de uma nau-capitania: “TERRA! 
O  berro esganiçado havia partido do vigia-marinheiro  quando  avistou, ao longe, um fiapo de terra, depois – mais próximas  –  curvas amenas de montanhas e, sobressaindo-se delas, a ponta arredondada de um monte. 
Passada a eufórica alegria da descoberta, o comandante Pedro Alvares Cabral, –  um fidalgo e capitão-mor da Coroa Portuguesa de 33 anos –  fez fundear a poucos quilômetros da costa,  sua frota composta de 13 caravelas e de cerca de 1400 homens.
Desembarque de Cabral em Porto Seguro em 1500 - Óleo sobre tela de Oscar Pereira de Andrade - Pinacoteca do estado de S. Paulo
Em terra firme,  como agradecimento aos céus pelo sucesso da jornada, Cabral pediu que se cortassem algumas árvores, e que de seus troncos fosse levantado um altar.
Ao capelão-mor, frei Henrique de Coimbra foi confiada a condução da primeira missa da Terra de Vera Cruz.  Curiosos e embevecidos com aquela festa estranha, vários índios  puseram ao chão suas caças, seus arcos, suas flechas, lanças  e bordunas, e expuseram –  sentados ou deitados – toda a beleza e a graça de suas nudezes.            
(Ali, naqueles instantes de deslumbramento, eles desconheciam o que estaria reservado para seus descendentes, cinco séculos depois).

Primeira Missa no Brasil - Óleo sobre tela de Victor Meirelles - Museu Nacional de Belas Artes - Rio de Janeiro
Rezada a missa, Cabral ordenou ao escrivão-mor que desse ciência do feito ao rei Dom Manuel I, o Venturoso.  Horas depois, Pero Vaz de Caminha, com sua caligrafia esmerada,  registrou o fato numa minuciosa carta .  “... A terra é amena, fértil,  em tal se julga que em se plantando nela, tudo haverá de nascer e florir.  Eis que aqui se tem uma gente dócil e receptiva  com seus corpos tintos e suas raspadas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma.”
Trecho d carta de Pero Vaz de Caminha ao rei Dom Manoel I
No primeiro dia de maio, Gaspar de Lemos, comandante da nau de mantimentos da frota, zarpou com destino a Portugal levando  a tal missiva para o rei D. Manuel I, o Venturoso.  A carta conservou-se inédita por mais de dois séculos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa.  Foi descoberta, em 1773 por José de Seabra da Silva e publicada pelo historiador Manuel Aires de Casal, em 1817.  Em 2005, este documento foi inscrito no Programa Memória do Mundo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura  (UNESCO, na sigla inglesa).
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa.
Com essa carta-ata, estava oficializada a posse da nova terra que iria servir de glória e riqueza ao reino de Portugal, e que iria vivenciar,  ao longo de 520 anos, entre risos e prantos, os píncaros das riquezas e os vales das misérias.  Ao longo de 520 anos,  Iria presenciar a honradez e a cafajestagem de muitos dos seus futuros governantes.
Juscelino Kubitschek e  Fenando Henrique Cardoso      /       Lula e Bolsonaro
Ontem e hoje  uma “puta” diferença!
(como diria um certo capitão, em seu linguajar)
 
Reunião Ministerial em 22 de abril de 2020
Pelo que se depreende da carta,  Caminha não registrou  palavrões chulos  de ofensas às senhoras mães dos intendentes da Corte portuguesa;  nem rompantes histéricos de uma recalcada duquesa-ministra de desejar mandar prender governadores e prefeitos das Províncias de além-mar.  Não foi registrado nenhuma leviandade por parte dos sub- comandantes da frota.  Tampouco distribuição de cargos para o grupo dos abjetos marujos do “Centrão” (assim cognominados porque, quando nos conveses das embarcações, ocupavam a bancada central, entre os "nobre colegas" que ocupam a bancada da direita, e os que ocupavam a bancada da esquerda). .Não constou da carta, sequer uma ameaça do Comandante Cabral de demissão "generalizada" a quem não adotasse a defesa das pautas de navegação,  e/ou acatassem as diretrizes do seu Comando
Nada consta que Pedro Alvares Cabral tenha exigido a mudança da Superintendência dos Portos,  para que ele tivesse o porto de  Lisboa sob controle,  a fim de poder ali, não só poder ancorar com segurança absoluta, como também receber informes de tudo quanto ali era tratado sobre si próprio, e sobre sua venerada prole.
 
Reunião Ministerial em 22 de abril de 2020
 Nada dessas baixarias Caminha fez registrar em sua carta, uma vez que  não ocorreram.   O Comandante Cabral era um homem honrado e, acima de tudo, conhecedor do seu ofício de Navegador.
Um simples exemplo de sua assisada conduta ilibada deu-se quando sua tripulação foi acometida por escorbuto – a terrível “doença dos navegantes”,  causada pela carência de vitamina C, e caracterizada por queda da resistência às infecções,  hemorragias intensas, e morte.
Cabral não a considerou como uma “gripezinha, um “resfriadinho de merda.  Sua pronta ação cuidadosa foi determinar que uma das naus ancorasse numa das ilhas atlânticas,  e se abastecesse de frutas cítricas para combater o mortífero escorbuto. 
 520 anos depois
A terrível doença convid-19 é causada pelo novo coronavírus Sars-CoV-2 Ele é infinitamente  mais contagioso e mortífero que o vírus causador da  Peste Bubônica (ou Peste Negra),  assim como o vírus causador da Gripe Espanhola.
 Peste Bubônica  assolou a Europa no século 14, matando entre 50 e 90 milhões pessoas só na antiga Eurásia No total, a praga pode ter reduzido a população mundial de 450 milhões de pessoas para 250 milhões Seus sintomas incluíam além de febre altíssima,  “inchaço” dos gânglios linfáticos na virilha, na axila ou no pescoço, e paralisia muscular Foi causada pela bactéria Yersinia pestis,  e foi disseminada pelo contato com pulgas e roedores infectados.
A segunda pandemia  Gripe Espanhola   ocorreu em 1918/1919, e vitimou entre 40 e 50 milhões de pessoas,  entre as quais o nosso então presidente Rodrigues Alves.
O vírus veio da Europa,  a bordo de um navio transatlântico Alguns de seus passageiros, já infectados, desembarcaram no Recife, em Salvador e no Rio de Janeiro 
Os sintomas da doença eram muito parecidos com o atual coronavírus,  e era absolutamente incurável. 
Em São Paulo,  grande parte da população, foi atrás de um anunciado remédio caseiro feito com cachaça, limão e mel.  O que ficou de pitoresco desse triste desespero é que,  de acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaçafoi dessa receita supostamente terapêutica que nasceu a caipirinha.

Demência em tempo de pandemia.
Imagem:  Super Rádio Tupi FM
A “gripezinha” do irresponsável  Inquilino Passageiro do Palácio do Planalto,  que atende pelo sobrenome Bolsonaro,  já vitimou mais de 15 mil brasileiros, e tem  220 mil casos confirmados.   
Sua obsessão em debochar da pandemia,  chegou ao extremo de anunciar um churrasco  para amigos e familiares, a ser realizado no sábado ( 9 de maio),  no momento em que o total oficial de óbitos ultrapassava 10 mil Em seguida, em seu total desatino, disse em gargalhadas típicas de um demente,  que foi "apenas um anúncio fake, feito para desmoralizar repórteres idiotas.  Um dia após (domingo, 10/5),  enquanto os governantes de todos os estados  e municípios da Federação determinavam luto oficial de 3 dias em respeito às lamentáveis 10 mil  vítimas, o apelidado “mito” pelos seus fanáticos camisas pardasfoi passear de Jet Ski no Lago Paranoá,  gargalhando, e vociferando que o Brasil vive uma neurose com o novo coronavírus



O incurável

Foto: Jornal de Brasília  (Divulgação)
Mais cedo ou mais tarde, a corrida mundial dos cientistas para encontrar uma vacina contra a convid-19  será bem-sucedida.  Já para o Inquilino Passageiro do Palácio do Planalto,  que atende pelo sobrenome Bolsonaro, não há xarope que dê jeito 
Na segunda-feira (11/5) ele decretou a inclusão de academias, salões de beleza e barbearias entre os serviços considerados essenciais.  Isto é, que podem funcionar mesmo em meio à quarentena imposta para enfrentar a pandemia. Trata-se de um estúpido abuso da noção de serviço essencial; afinal,  pode-se perfeitamente viver sem levantar  pesos, cortar os cabelos, maquiar-se, mas não se pode viver sem energia elétrica, transporte público e hospitais.  Para o desatinado capitãocontudo, academia é vida.  Em seu bizarro linguajar, ele comentou que “as pessoas têm colesterol,  têm problema de estresse mas, com academia, vão ter uma vida mais rica de saúde.  Já sobre os salões de beleza, o capitão  disse,  em seu palavreado estrambólico que "fazer o cabelo do homem, dos meninos,  da mulher,  e unhas é questão de viver mais de higiene, pô”.
Discutir se salões de beleza, barbearias e academias são serviços essenciais em meio a uma gravíssima pandemia – que, ainda longe do seu pico, já ceifou a vida de mais de 15 mil brasileiros – é,  no mínimo, perder o foco do problema central.  É uma DEMÊNCIA TOTAL
Foto:  Daniel Marenco     -    Globo
O Inquilino Passageiro do Palácio do Planalto,  que atende pelo sobrenome Bolsonaro,  investe na desordem, da qual pretende extrair capital eleitoral
Em meio às imensas incertezas geradas pela doença conavid-19,  que desafiam até os melhores administradores públicos  de todo o mundo
,capitão oferece o elixir das soluções fáceis: o fim do isolamento social, e a ingestão de cloroquina – medicamento para o tratamento da malária, artrite reumatoide, e lúpus, com gravíssimos efeitos colaterais (constantes na bula), tais como:  confusão mental, convulsões, queda da pressão sanguínea, alterações no electrocardiograma e  riscos de óbitos.
Por não concordar com as LOUCURAS DO CAPITÃO, o ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich, pediu sua demissão às 11 horas dessa sexta-feira, 15 de maio.  Foi o segundo titular responsável pela condução da Saúde Pública a SER AFASTADO DO CARGO EM DOIS MESES.
Foto:  Gabriela Biró - Estadão

A estratégia do “ESPERTALHÃO”
Foto:  Jornal O Estado de Minas - Divulgação
A estratégia é óbvia.  Preocupado exclusivamente com a sua reeleição e com seu projeto autoritário de governo, o matreiro capitão que fazer crer que a pandemia não passa de histeria” para prejudicar seu governo e que tudo seria diferente se os “inimigos do Brasil, como ele chama aqueles que impõem limites a seu doentio projeto, “parassem de sabotá-lo”.

A lista dos bodes expiatórios do bolsonarismo é extensa.  Inclui os governadores e prefeitos que, cumprindo seus deveres, impuseram o isolamento social.  Inclui o Supremo Tribunal Federal que, em respeito ao princípio federativo, confirmou a autonomia de Estados e municípios para gerenciar a crise como acharem melhor 
E incluía até mesmo o ministro da Sáúde Nelson Teich (demissionário na manhã de sexta feira, 15 de maio)  – (O anterior, Luiz Henrique Mandetta,  foi demitido porque contrariou o capitão ao insistir no isolamento social como melhor forma de combater a pandemia),
Ex-ministro da Saúde    luiz Henrique Mandetta     -     (Foto: Ueslei Marcelino / Reuters  
O substituto do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta,  Nelson Teich, foi alvo de constantes  hostilizações, por parte dos cretinos fanáticos bolsonaristas, por manifestar seus  pesares pelos mortos;  e colocou em dúvida o tratamento com a cloroquina , a famosa PANACÉIA DO “PRESIDENTE”. 
Ficará  para a história a expressão do já demissionário ministro da Saúde Nelson Teich, ao tomar conhecimento por jornalistas, do decreto presidencial que ampliara a lista de serviços essenciais" (academias, salões de beleza e barbearias).  Com espanto,  e de olhos arregalados, ele perguntou, totalmente incrédulo,  aos jornalistas: Isso aí!... Saiu hoje isso aí?
O então Ministro da Saúde Nelson Teich   -   Imagem:   TV Brasil

EXEMPLOS QUE O CAPITÃO DEVERIA SEGUIR, MAS QUE IRÁ RIDICULARIZAR.


 No momento em que o “atleta” Inquilino Passageiro do Palácio do Planalto, deliciava-se de jet iski nás águas do Paranoá, o presidente Emmanuel Macron e sua esposa Brigitte davam plantão noturno no Hospital de Marselha.  Seus plantões são: aos sábados e domingos das 8 às 17 horas.  Às segundas, quartas e sextas os plantões ocorrem das 16 horas até meia noite.

No momento em que o “atleta” Inquilino Passageiro do Palácio do Planalto, deliciava-se de Jet Ski nas águas do Paranoá,  a chanceler da Alemanha Angela Merkel cumpria as 5 horas diárias do seu expediente de 10 horas para trabalhos voluntários de ajuda ao corpo clínico e de enfermagem,  em hospitais públicos de Berlim.

No momento em que o “atleta” Inquilino Passageiro do Palácio do Planalto, deliciava-se de Jet Ski nas águas do Paranoá, a princesa  Sofia , filha do rei Gustav e da rainha-consorte Sofia, atendia a pacientes infectados pelo novo coronavírus em hospital de Estocolmo.
Princesa Sofia   -  Google Images
Sem dúvida alguma, para os boçais fanáticos ideólogos do transloucado capitão,  
esses Estadistas  verdadeiros samaritanos  não passam de COMUNISTAS
que merecem ser banidos.

Desenho e montagem baseado em "Dom Quixote de la Mancha",  de Miguel Cervantes       -         Luis Lago_Photo'S
O FIM
Felizmente, cada vez mais brasileiros diagnosticam o capitão  como INCURÁVEL.  Em recente pesquisa,  a Datafolha indica que, em quatro meses, a avaliação negativa do governo subiu de 26,6% para 73,4%, enquanto a avaliação positiva caiu de 69,75% para 30,25%.
E nem chegamos à metade do mandato.  Donde se conclui que, em meio à disputa feroz entre o capitão e o coronavírus para ver quem é o pior para o Brasil, capitão ganha disparado.
Por fim, só nos resta esperar que as nossas confiáveis  Instituições, constituídas  pelo Supremo Tribunal Federal,  Congresso Nacional,  assim como a Imprensa escrita e falada,  façam valer seus papéis de guardiães e mantenedores do Estado Democrático de Direito, e se atenham à parafraseada observação de Macunaíma:  
"Ou o Brasil acaba com a palhaçada, ou a palhaçada acaba com  Brasil"

Foto:  Dida Mendonça     -      Estadão



Fontes:  Encyclopædia Britannica  / MASP / História Geral do Brasil  (Karl Schurster) Época/  /Jonal do Brasil/ Correio Braziliense / O Globo / TV Brasil / Veja / O Estado de S. Paulo / Folha de S. Paulo / Anatomia relativa às Belas Artes ( Félix-Émile. Taunay) 



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