13/janeiro/2017 –
17h25
Geddel atuou em esquema fraudulento com Cunha para
liberar crédito da Caixa
Ex-ministro foi
vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco entre 2011 e 2013
O ex-ministro Geddel Vieira Lima teve
os sigilos bancário, fiscal, telefônico, telemático e postal quebrados pela
Justiça e foi alvo nesta sexta-feira (13) de uma operação da Polícia Federal
que investiga um esquema de fraudes na liberação de créditos junto à Caixa
Econômica entre 2011 e 2013. À época, Geddel era vice-presidente de Pessoa
Jurídica da Caixa. A PF cumpriu sete mandados de busca e apreensão no
Distrito Federal, Bahia, Paraná e São Paulo.
De acordo com a PF, Geddel atuou em
conjunto com o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB), Fábio Cleto (então
vice-presidente da Caixa) e o doleiro Lúcio Funaro para beneficiar
empresas. Dentre as empresas citadas como beneficiárias do esquema estão o
grupo J&F, a BR Vias (pertencente ao Grupo Constantino e alvo da Operação
Lava Jato), a Oeste Sul Empreendimentos Imobiliários, Digibrás, Inepar, Grupo
Bertin, entre outras. Em troca, elas pagavam propinas. A informação
consta no despacho do juiz Vallisney de Souza Lima, que autorizou a operação.
"(...) Consta dos autos que,
valendo-se do cargo de vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica
Federal, agia internamente, em prévio e harmônico ajuste com Eduardo Cunha e
outros, para beneficiar empresas com liberações de créditos dentro de sua área
de alçada e fornecia informações privilegiadas para outros membros do grupo
criminoso composto, ainda, por Eduardo Consentino da Cunha, Fábio Ferreira
Cleto e Lúcio Bolonha Funaro, para que, co isso, pudessem obter vantagens
indevidas juntos às empresas beneficiárias dos créditos liberados pela
instituição financeira.", afirma o juiz, no despacho.
Ex-ministro atuou na Caixa com Eduardo Cunha, Fábio Cleto e Lúcio Funaro
A ação se baseia em informações em um
celular encontrado na residência oficial da Câmara, quando era ocupada por
Eduardo Cunha. Perícia realizada após autorização judicial encontrou
"uma intensa troca de mensagens eletrônicas entre o presidente da Câmara à
época e o vice-presidente da Caixa Econômica Federal de Pessoa Jurídica entre
2011 e 2013" no celular.
A PF informa que "as mensagens
indicavam a possível obtenção de vantagens indevidas pelos investigados em
troca da liberação para grandes empresas de créditos junto à Caixa Econômica
Federal". A investigação aponta que o esquema teve a participação do
vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco, do vice-presidente de Gestão de
Ativos e de um servidor do banco. Empresários e dirigentes do setor
frigorífico, de concessionárias de administração de rodovias, de
empreendimentos imobiliários e do mercado financeiro também, participavam no
setor privado. As práticas indicam crimes de corrupção, formação de
quadrilha e lavagem de dinheiro. Como alguns dos suspeitos gozavam de foro
privilegiado, a investigação foi inicialmente conduzida pelo Supremo Tribunal
Federal. Depois de os principais suspeitos se afastarem dos cargos e funções
públicas, a Corte encaminhou o inquérito à Justiça Federal do Distrito Federal.
De acordo com o MPF, foi o
ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa, Fábio Cleto quem,
ao prestar depoimentos à Procuradoria-Geral da República, acusou Eduardo Cunha
de ter recebido propina de empresas em troca da liberação de verbas do Fundo de
Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS ). A gestão do
fundo estava sob a responsabilidade da vice-presidência de Gestão de
Ativos, então ocupada por Marcos Roberto Vasconcelos, que foi exonerado do
cargo a pedido, em setembro de 2016.
Para o procurador Cordeiro Lopes, os
indícios de irregularidades já reunidos apontam que os investigados operaram
para fraudar a liberação de créditos da Caixa empregando técnicas semelhantes
às usadas para desviar recursos da Petrobras e já reveladas pela Operação Lava
Jato. Entre outras acusações, o procurador sustenta que Cunha obtinha
empréstimos fraudulentos para empresas participantes do esquema junto à
diretoria comandada por Geddel.
“A BR Vias beneficiava-se de
sistemática ilícita para obtenção de recursos junto à CEF, contando com a
participação ativa do então vice-presidente de Pessoa Jurídica, Geddel Vieira
Lima, bem como do ex-deputado federal Eduardo Cunha e de Fábio Cleto e Lúcio
Bolonha”, afirma o procurador. Em uma mensagem extraída do telefone apreendido
de Cunha, Geddel informa o ex-presidente da Câmara de que há problemas na
liberação de créditos para a Oeste Sul.
“Outras mensagens dão testemunho de
que, assim como a BR Vias, outras empresas vinculadas à família Constantino
negociavam a obtenção de recursos na vice-presidência de Pessoas Jurídicas da
CEF”, relata Cordeiro Lopes, mencionando o grupo Marfrig e Seara como beneficiários
do esquema.
Diante dos argumentos e elementos
apresentados pelo MPF, o juiz federal Allisney de Souza Oliveira autorizou a PF
a fazer buscas e apreender documentos em endereços residenciais e comerciais
ligados aos investigados e na própria Caixa. Também a pedido do MPF, o
magistrado suspendeu o sigilo de todo o processo, inicialmente enviado ao STF,
devido ao foro privilegiado de que Geddel e Cunha dispunham no início das
investigações e, posteriormente, remetidos para o Tribunal Regional Federal do
Distrito Federal.
Procurada, a assessoria do PMDB
informou que Geddel ainda não se pronunciou sobre as suspeitas. A reportagem
ainda não conseguiu contato com o ex-ministro, com os advogados de Eduardo
Cunha e com os demais alvos dos mandados de busca e apreensão.
A Caixa informou que o banco está em
contato permanente com as autoridades, prestando irrestrita colaboração com as
investigações, procedimento que continuará sendo adotado pela instituição.
A operação, batizada de Cui Bono –
expressão latina que em português significa “a quem beneficia?” –, teve
mandados expedidos pela 10ª Vara Federal do DF, e é um desdobramento da
operação Catilinárias, que fez buscas e apreensões na residência oficial da
Câmara, à época ocupada por Cunha.