SOBRE AVES E AMORES.
― Hoje não vou falar de política. Hoje é domingo, missa e praia, céu de anil. Tem sangue no jornal, bandeiras na Avenida Zil. Isso tudo, o Maluco Beleza Raul Seixas (ou Raulzito), falou para nós, seus amantes fanáticos, e por isso, tarados. Ele botou isso na canção “S.O.S”, composta como apelo a um onírico disco voador para que o levasse para onde fosse, pois o poeta Maluco sabia que tinha (e continua tendo) tantas estrelas por aí.
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Rual Seixas / (autoria da foto, desconhecida) |
Então, como um bater de continência à memória do Raulzito, não vou falar de política. E, fim de papo!
Embora saiba que
essa decisão, vai deixar algumas dúzias de Amigas (e outras tantas de Amigos), que perdem algum tempo de suas preciosas (e
vitais) quarentenas lendo esse
blá-blá-blá que boto aqui no Barraco; essa decisão vai deixá-los com uma vontade de
me encher de porrada a
minha boca. Paciência! Não falarei de política, não.
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Detalhes de um descontrolado - Crédito da foto (cortada): Lúcio Távora / Folha |
Bem por isso, vou pedindo desculpas ao pessoal de Belo Horizonte, Uberaba, e Montes Claros; à tchurma gaúcha de Porto Alegre, Caxias, Novo Hamburgo e Bento Gonçalves; à patota do Rio cap e Niterói: e aqui pertinho, à cambada de Sampa, e de Santos, Sto André. Campinas e Ribeirão Preto, e também Prudente. Do Paraná, as gurias e os guris de Curitiba, Maringá, e Londrina. E tem os amigões lá do Ceará; as cabras e os cabras-da-peste paraibanos de João Pessoa e Campina Grande; os pernambucanos do Recife, marcados a ferro e fogo pelos malditos milicos de 64. E, claro!, os bambas de Belém, e de Manaus.
Mil desculpas
a todas e a todos: cansei de falar dessa imundice, desse lixo, dessa latrina, em que está chafurdada a nossa política
de merda; espelho escarrado e cuspido da política americana e russa.
Por
estar enojado dessa gente ordinária, e por ser hoje
domingo, véspera do feriado do 7 de setembro, vou falar de AVES.
Mais especificamente das pombas. (E antes de falar delas, quero dizer que a foto que ilustra esta Postagem é de 1975. Foi clicada, por mim, em 10 de agosto daquele ano, também um domingo como hoje, em lembrança aos 30 anos das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente) .
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Imagem da ilustração da abertura da Postagem (a esquerda) e imagem do triste "cogumelo" gerado pela bomba atômica sobre Hiroshima (crédito da imagem: governo dos EUA) |
As pombas e nós: docilidade e amorosidade
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Pomba plaina sobre a Praça de São Pedro (Roma) - Crédito da foto: Getty Images |
As pombas são excessivamente distintas das demais aves que povoam esse planeta Terra. Senão, vejamos:
As pombas não possuem a força dos gaviões. A plumagem é inferior à do pavão. O canto está a quilométrica distância do rouxinol ou do uirapuru. O voo não tem a majestosidade da águia. Também o voo das pombas não é um bailado gracioso como os dos beija-flores. As pombas não constroem ninhos como os dos joões-de-barro.
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Crédito das fotos: Getty Images (in Google Images) |
Todas essas comparações são ornitológicas e não devem afetar “sentimentos humanos”. Quando comparadas às nós, pobres animais tidos como “racionais”, esbarramos em suas mansidões. Elas são mansas porque aparentam ser fracas. É a humildade não derivada de prática moral, senão por incapacidade de ataque. Há pessoas que buscam o “ deixa disso” nas brigas, por uma questão de fraqueza, o que as distingue das autênticas pacifistas.
A “revolta” das pombas
Pode ser natural, em decorrência dessas marcantes
diferenças de aspectos entre as pombas e as demais aves, que
elas se tornem ressentidas.
Portanto, temamos a cólera das pombas. Acautelemo-nos com a
raiva de quem se sente fraco e é atingido por comparações. Tenhamos cuidado com a dor do
bando que congrega tantos ressentimentos, sonhos frustrados, e desejos
reprimidos.
“Por que eu não tenho admiradores como o
falcão?”, pia pomba pesarosa.
“Por que a live do canário teve tantos
seguidores e a minha, nenhuma?”
“Por que eu sou menos do que o pavão; do que
a ave-do-paraíso?”
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Credito das fotos: Getty Images (in Google Images) |
Eles – nossos irmãos tidos por nós como irracionais – nunca são de “esquerda”, de “direita”, do “centrão”; dessas besteiras que os bitolados do fã clube.do capitão Cloroquina, sem saber o que vem a ser tudo isso, vomitam aos quatro cantos dos seus limitados universozinhos.
As sardinhas não contam anedotas de portugueses, e a
relação entre eles é antiguíssima. Os animais "irracionais" não são ressentidos. Diferentes dos nossos, os problemas deles são
simples e objetivos: comer, acasalar,
construir ninhos e sobreviver.
Os grupos podem se enfrentar, jamais constituem ou fazem
propaganda. A alva coruja jamais
frequentou reuniões racistas sobre os urubus.
O delgado e raquítico pardal não pensa que a robusta ema é destituída de
amor próprio. O colibri se abastece de
doce nectar e a seriema tem as cobras
como prato mais desejado; nenhum deles se vangloria sobre a dieta alheia.
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Crédito das fotos: Image Bank (Google Images) |
Um tema palpitante para essa época da Covid-19
Alguns de nós, “humanos”
envelhecem com pesadelos de abutres, enquanto a internet faz todos
sonharem que são majestosos como a águia.
E as pombas? Continuam esbanjando docilidade e amorosidade?
Acho que seria um bom jogo de salão para animar festas
nos dias de quarentena. Que ave você
seria na família, ou no grupo do
home-office? Mal emito a sugestão e já
imagino a multidão de sorrisos irônicos, imaginando o chefe e a sogra.
Talvez, deste desafiador ano de 2020, deveríamos todos
imitar um pássaro mítico; a fênix.
O circo está pegando fogo (ou já pegou!) e precisamos renascer e voar
alto sobre as labaredas.
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Crédito da imagem: Pic Mix (in Google Images) |
E quanto às pombas?
Espelhemo-nos em sua graça e singeleza.
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Crédito da foto: Getty Images |
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