Eleição
para presidência da Câmara polariza base de Temer
Maia garante apoio de partidos,
enquanto Jovair busca deputados
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O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) ao lado do deputado Jovair Arantes (PTB-GO): disputa pelo comando da Casa - Givaldo Barbosa / Agência O Globo / 30-11-2016 |
A 17 dias da volta do Congresso aos trabalhos, a eleição presidencial na
Câmara se polariza entre dois candidatos da base aliada do governo Michel
Temer: o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que o Palácio do
Planalto deixa claro ser seu nome preferido, e o líder do PTB, Jovair Arantes
(GO), integrante do centrão, que se lançou na última semana em evento com
discursos de independência em relação ao Executivo.
Até o momento, outras duas candidaturas estão postas, uma da base aliada
— o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), com dificuldades de apoio até mesmo em
sua própria bancada — e o nome de oposição, André Figueiredo (PDT-CE), que
ainda luta por apoio de outros partidos oposicionistas.
A disputa é marcada, ainda, pela dúvida sobre a possibilidade de
reeleição de Maia. Seus adversários atacam e até já questionaram o Supremo
Tribunal Federal (STF) para tentar barrar a iniciativa, sem sucesso até o
momento. Maia, por sua vez, recorreu a pareceres para tentar tranquilizar os
partidos que estão dispostos a apoiá-lo. O debate é se a norma constitucional
que proíbe a reeleição dos dirigentes da Câmara eleitos no início das
legislaturas se aplica a ele, eleito para um mandato tampão no ano passado,
após a renúncia de Eduardo Cunha.
Jovair prega independência
Enquanto Maia já garantiu o apoio de partidos importantes, Jovair tenta
conseguir votos no varejo, conquistando deputados apesar do sinal pró-Maia das
cúpulas partidárias. O líder do PTB tem repetido que sai como candidato avulso
e que sua campanha se dedica a conquistar os parlamentares “na sua
individualidade”. Aposta no que considera “insatisfação dos deputados” com a
condução da Casa, muito atrelada aos interesses do governo Michel Temer. Sua
campanha se sustenta no chamado “baixo clero”, o mesmo que levou Cunha ao
posto.
No lançamento de sua candidatura — que tem como slogan “Coragem para ser
independente” —, os discursos pregavam uma Câmara que não fosse uma “extensão
do Palácio do Planalto”. A estratégia de Jovair é colar em Maia o rótulo de
candidato oficial do governo. Ironicamente, Jovair reclama com o Planalto pelo
apoio explícito dado por ministros ao adversário. Publicamente, no entanto,
Temer nega ter preferência entre os candidatos da base.
Ao selar formalmente o apoio à reeleição do atual presidente, o líder do
PR, Aelton Freitas (MG), disse que os sinais do Planalto foram no sentido de
que Maia é a melhor opção pela governabilidade:
— O Temer não fez nenhum pedido, mas para quem sabe ler, pingo é letra.
Entendemos que o Rodrigo é o melhor candidato.
Embora não confirme publicamente sua candidatura, Maia trabalha
intensamente nos bastidores para consolidar apoios das cúpulas das legendas. Já
assegurou o apoio de PSDB, DEM, PPS e PR, e recebeu sinalização de siglas, como
PMDB e PRB. Falta confirmar o apoio do PP, quarta maior bancada da Casa, que
ainda se divide entre ele e Jovair Arantes. Com o PSD, as negociações parecem
avançadas, mesmo com a candidatura de Rosso.
Esta semana, o PSB se reunirá para discutir o tema. A tendência é a
maioria fechar com Maia. O atual presidente da Casa tem, ainda, a simpatia de
boa parte da bancada do PCdoB e busca garantir apoio do PT, o que poderia
fortalecer seu desempenho e garantir sua reeleição no primeiro turno. Maia já
conversou duas vezes com o líder da bancada petista, Carlos Zarattini (SP).
Disposto a retomar seu lugar na Mesa Diretora, o PT defende que não haja
formação de blocos e já avisou que quer a Primeira Secretaria, mas encontrará
resistência da base de Temer. O PSOL tende a lançar candidato próprio, como nas
outras eleições.
Postos cobiçados na Mesa Diretora
Ao mesmo tempo, a Primeira Secretaria énegociada com o PR. Cresce na
base a disposição de formar um bloco parlamentar e garantir as melhores vagas
na Mesa. Segundo aliados de Maia, se o PT não embarcar na candidatura de André
Figueiredo pode ficar com uma das outras três secretarias.
Também nesta semana, o PT reunirá sua bancada, que está dividida, com
parte apelando para o pragmatismo e a importância de o partido estar na Mesa
Diretora e outra, uma ala mais à esquerda, rechaçando aliança com Maia ou
Jovair, que apoiaram o impeachment. Parte dos petistas desdenha do empenho real
de André Figueiredo.
— O André avisou da candidatura por telefone. Cadê ele? Está em qual praia
do Ceará? Cumbuco? — provoca um petista.
O candidato do PDT se defende, diz que seu nome está posto e que aguarda
o posicionamento dos partidos de oposição para intensificar o trabalho.
Figueiredo afirma que não é uma espera passiva e alega que tem ligado para
deputado
Rosso foca campanha nas redes sociais
Rogério Rosso optou por uma campanha mais pitoresca, com a divulgação
nas redes sociais de vídeos em atividades descoladas. Em um deles, foi de
Brasília a Trindade, cidade religiosa de Goiás, de bicicleta, pedir luz para a
campanha. Em outro, toca guitarra. Para muitos colegas, Rosso faz campanha para
fora da Câmara, visando o governo do Distrito Federal ou a vaga do Senado em
2018.
A eleição está marcada para 9h do dia 2 de fevereiro. Maia já divulgou o
calendário prévio, com a formação de blocos até as 12h de 1º de fevereiro e a
possibilidade do registro de candidaturas até as 23h. Na avaliação dos
adversários, até os horários mostram como Maia trabalha em seu favor. O tempo
para recorrer ao Supremo questionando sua candidatura à reeleição será mínimo
e, caso vença a eleição, ficaria ainda mais difícil que os ministros
interferissem na disputa.