27/dezembro/2017 – 21h45
PGR entra com ação no STF contra indulto de Natal de Temer
Raquel
Dodge argumenta que decreto de presidente fere a Constituição
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A procuradora-geral da República, Raquel Dodge - Jorge William/Agência O Globo |
Jornal O Globo ―
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, entrou com uma Ação
Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra
o decreto publicado pelo presidente Michel Temer com regras mais brandas para a
concessão de indulto de Natal a presos condenados. O Palácio do Planalto
afirmou que não vai se manifestar sobre o pedido da procuradora-geral.
No pedido liminar, Dodge argumenta que o decreto fere a Constituição ao
prever a possibilidade de perdão de multas e também vai contra a separação
entre os Poderes ao estabelecer que o benefício possa ser concedido a
condenados que tenham cumprido um quinto da pena.
“O chefe do Poder Executivo não
tem poder ilimitado de conceder indulto. Se o tivesse, aniquilaria as
condenações criminais, subordinaria o Poder Judiciário, restabeleceria o
arbítrio e extinguiria os mais basilares princípios que constituem a República
Constitucional Brasileira”, escreveu Dodge na ação.
LAVA-JATO: CRÍTICAS AO INDULTO NATALINO DE TEMER
Por 15 anos, só foi colocado em liberdade pelo decreto presidencial quem
tivesse cumprido um terço de uma pena máxima de 12 anos, no caso de crimes sem
violência, onde se encaixa corrupção e lavagem de dinheiro. Em dois anos, esta
tradição foi quebrada, levando o comando da Lava-Jato a questionar a
constitucionalidade da decisão do presidente.
Em 2016, veio a primeira mudança importante: o tempo de cumprimento da
pena baixou de um terço para um quarto. Este ano, o tempo de prisão foi
reduzido a um quinto, independentemente do tempo da pena a ser cumprida. A
idade de benefício a idosos, que era acima de 70 anos, agora pode ser igual ou
maior que 70. Antes, apenas quem tinha filho até 14 anos podia ser beneficiado.
Agora, também serve ao condenado que tem netos, caso fique provado que dependam
do apenado.
De acordo com o ministro da Justiça, Torquato Jardim, o novo decreto se
deu por "posição política" do presidente Michel Temer. Segundo ele, o
presidente "entendeu que era o momento político adequado para uma visão
mais liberal da questão do indulto". Três especialistas ouvidos pelo GLOBO
analisaram as novas regras.