quarta-feira, 21 de setembro de 2016

21/setembro/2016 às 9h15
 Sem plano B, cúpula petista já vê Lula fora da disputa em 2018
A cúpula do PT admite, nos bastidores, que não poderá contar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a disputa de 2018, mas não tem um plano B nem sabe como se reinventar. Desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em agosto, os petistas continuam atônitos, embalados por uma crise atrás da outra.
A pior delas, porém, é a que atinge o maior líder do partido e da esquerda. Nas fileiras do PT, muitos acham que Lula será preso, haja ou não provas, e exibido como um “troféu” da Lava Jato. Mesmo os que não creem nessa possibilidade, no entanto, enxergam uma operação em curso para torná-lo ficha-suja e impedir sua candidatura, daqui a dois anos.
Sem Lula, o PT fica de mãos atadas. Aos 36 anos, o partido não formou novos quadros políticos, não conseguiu renovar seu programa e tem dificuldade até mesmo para encontrar um nome de peso para comandá-lo, a partir de 2017, quando haverá a escolha da nova direção.
Além disso, embora o ex-presidente ainda não tenha sido julgado, o fato de ter se tornado réu da Lava Jato, pela segunda vez, provoca uma devastação na seara petista.
O PT já se prepara para perder a Prefeitura de São Paulo, considerada a “joia da coroa”, e enfrentar considerável diminuição de tamanho. Na tentativa de defender Lula e o legado do partido nos quase 14 anos à frente do Palácio do Planalto, o Diretório Nacional produziu peças de rádio e TV que deverão ser usadas em todas as suas campanhas municipais.
Sob o slogan “Lula é meu amigo, mexeu com ele mexeu comigo”, o PT também organiza um calendário de mobilização, que inclui uma série de atos de solidariedade ao ex-presidente, até o segundo turno das eleições. A ideia é que palavras de ordem como “Fora, Temer”, “Diretas-Já” e “Nenhum direito a menos” façam parte das manifestações, com apoio das frentes Brasil Popular, Povo Sem Medo e de outros partidos, como o PCdoB e o PSOL. 

Nunca antes na história deste País Lula e o PT viveram uma crise assim.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Moro aceita denúncia e Lula vira réu na operação Lava Jato

Foto: Ueslei Marcelino/REUTERS

O juiz federal Sérgio Moro aceitou a denúncia do Ministério Público Federal contra o ex-presidente Lula nesta terça-feira (20), no âmbito da operação Lava Jato. A denúncia, apresentada na última quarta-feira (14) pelos procuradores, abrange três contratos da OAS com a Petrobras a respeito de propinas pagas a Lula no valor de R$ 3,7 milhões.
A denúncia contra Lula inclui a esposa dele, Marisa Letícia da Silva, e outras seis pessoas: o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro e quatro pessoas relacionadas à empreiteira OAS: Agenor Franklin Magalhães Medeiros, Paulo Roberto Valente Gordilho, Fábio Hori Yonamine e Roberto Moreira Ferreira. Lula foi denunciado por lavagem de dinheiro, corrupção passiva e falsidade ideológica.
No despacho, Moro afirma que não há, porém, juízo conclusivo e, endossando as muitascríticas à falta de provas das denúncias apresentadas pelo procuradores, ressalta que os elementos probatórios são "questionáveis".
"Certamente, tais elementos probatórios são questionáveis, mas, nessa fase preliminar, não se exige conclusão quanto à presença da responsabilidade criminal, mas apenas justa causa (...) Tais fatos e provas são suficientes para a admissibilidade da denúncia e sem prejuízo do contraditório e ampla discussão, durante o processo judicial, no qual os acusados, inclusive o ex-presidente, terão todas as oportunidades de defesa", ressalta o juiz federal.
Moro também aceita denúncia contra Marisa Letícia
Imagem: Youtube

Apesar de receber a denúncia, Moro “lamentou” a parte das acusações sobre a ex-primeira Dama Marisa Letícia. Segundo o juiz, há dúvidas se a esposa de Lula tinha conhecimento dos supostos crimes.
"Lamenta o Juízo em especial a imputação realizada contra Marisa Letícia Lula da Silva, esposa do ex-presidente. Muito embora haja dúvidas relevantes quanto ao seu envolvimento doloso, especificamente se sabia que os benefícios decorriam de acertos de propina no esquema criminoso da Petrobras, a sua participação específica nos fatos e a sua contribuição para a aparente ocultação do real proprietário do apartamento é suficiente por ora para justificar o recebimento da denúncia também contra ela e sem prejuízo de melhor reflexão no decorrer do processo", argumentou Moro.

Os procuradores afirmam que o ex-presidente recebeu vantagens indevidas referentes à reforma de um triplex em Guarujá (SP) feita pela empreiteira OAS. Segundo o MPF, a reforma foi oferecida a ele como compensação por ações do ex-presidente no esquema de corrupção da Petrobras.
Após a divulgação da denúncia, os advogados de Lula afirmaram que as acusações fazem parte de um “deplorável espetáculo de verborragia da manifestação da força tarefa da Lava Jato”.
"O MPF elegeu Lula como maestro de uma organização criminosa, mas esqueceu do principal: a apresentação de provas dos crimes imputados. “Quem tinha poder?” Resposta: Lula. Logo, era o “comandante máximo” da “propinocracia” brasileira. Um novo país nasceu hoje sob a batuta de Deltan Dallagnol e, neste país, ser amigo e ter aliados políticos é crime", argumentou a defesa.
Ex-presidente se tornou réu pela segunda vez
No dia 29 de julho, a Justiça Federal de Brasília já havia aceitado denúncia apresentada pelo MPF e transformado em réus o ex-presidente Lula, o ex-senador Delcídio do Amaral, o ex-chefe de gabinete de Delcídio Diogo Ferreira, o banqueiro Andre Esteves, o advogado Edson Ribeiro, o pecuarista José Carlos Bumlai e o filho dele, Maurício Bumlai, por decisão do juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara do DF.
Os réus são acusados de tentar impedir que o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró de assinar acordo de delação premiada com a força-tarefa de investigadores da Operação Lava Jato. A denúncia foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) no início deste ano, mas o relator da Lava Jato na Suprema Corte, ministro Teori Zavascki, determinou que fosse enviada para a Justiça Federal de Brasília depois que Delcídio teve seu mandato cassado no Senado e perdeu o foto privilegiado para ser julgado no STF.
20/setembro/2016 11:00 
Na ONU, Temer afirma que impeachment foi exemplo brasileiro
Presidente criticou o discurso ‘xenófobo, extremista e nacionalista’, e abordou sucesso dos Jogos Olímpicos e fim das barreiras na Agricultura



O presidente Michel Temer na ONU dscursa na 71ª Assembleia Geral da ONU - Richard Drew / AP
NOVA YORK — Em seu primeiro discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, o presidente Michel Temer apresentou críticas a temas internacionais e fez uma defesa da situação política do país. Ele disse que o impeachment foi um exemplo para o mundo:
— Não há democracia sem Estado de direito, sem normas que se apliquem a todos, inclusive aos mais poderosos. É o que o Brasil mostra ao mundo. E o faz em meio a um processo de depuração de seu sistema político — disse o presidente, que recebeu aplausos apenas ao final de seu discurso de 20 minutos, cinco a mais do que o estabelecido.
Temer lembrou que o país “acaba de atravessar processo longo e complexo, regrado e conduzido pelo Congresso Nacional e pela Suprema Corte brasileira, que culminou em um impedimento” (de Dilma Rousseff).
—Tudo transcorreu dentro do mais absoluto respeito à ordem constitucional — disse Temer, que completou:
— Temos um Judiciário independente, um Ministério Público atuante, e órgãos do Executivo e do Legislativo que cumprem seu dever. Não prevalecem vontades isoladas, mas a força das instituições, sob o olhar atento de uma sociedade plural e de uma imprensa inteiramente livre.
O presidente brasileiro disse que a maior tarefa agora é retomar o crescimento econômico e restituir aos trabalhadores brasileiros milhões de empregos perdidos. “Temos clareza sobre o caminho a seguir: o caminho da responsabilidade fiscal e da responsabilidade social”, reforçou o presidente, que disse que a confiança ao país já está voltando.
Na abertura de seu discurso, Temer tratou mais de temas internacionais, afirmando que o Brasil tem vocação de abertura ao mundo. “Somos um país que se constrói pela força da diversidade. Acreditamos no poder do diálogo. Defendemos com afinco os princípios que regem esta Organização”, disse Temer, antes de começar suas críticas:
— O sistema internacional experimenta um déficit de ordem. A realidade andou mais depressa do que nossa capacidade coletiva de lidar com ela. De conflagrações regionais ao fundamentalismo violento, confrontamos ameaças que, velhas e novas, não conseguimos conter. Frente à tragédia dos refugiados ou ao recrudescimento do terrorismo, não nos deixa de assaltar um sentimento de perplexidade. Os focos de tensão não dão sinais de dissipar-se. Uma quase paralisia política leva a guerras que se prolongam sem solução — afirmou.
Em uma crítica que pode ser considerada indiretamente direcionada ao candidato republicano Donald Trump, Temer atacou o nacionalismo exacerbado:
— A vulnerabilidade social de muitos, em muitos países, é explorada pelo discurso do medo e do entrincheiramento. Há um retorno da xenofobia. Os nacionalismos exacerbados ganham espaço. Em todos os continentes, diferentes manifestações de demagogia trazem sérios riscos — disse.
Conselho de Segurança e Olimpíada do Rio
Ele criticou o protecionismo e reforçou o que considera os três valores principais do Brasil: paz, desenvolvimento sustentável e respeito aos direitos humanos. Temer também reservou críticas à ONU, defendendo uma modernização da organização :
— Queremos uma ONU de resultados, capaz de enfrentar os grandes desafios do nosso tempo. Nossos debates e negociações não podem confinar-se a estas salas e corredores. Antes, devem projetar-se nos mercados de Cabul, nas ruas de Paris, nas ruínas de Aleppo — disse o presidente, que voltou a pedir a reforma do Conselho de Segurança da ONU, onde o Brasil quer ter um assento permanente.
— Os semeadores de conflitos reinventaram-se. As instituições multilaterais, não.
O presidente disse ainda que se preocupa com a falta de uma perspectiva de paz entre Israel e Palestina e também defendeu o fim da ameaça nuclear no mundo. Temer disse que apoia a solução de paz na Colômbia , a retomada das relações entre os Estados Unidos e Cuba e se preocupa com o aumento de tensão na península da Coreia. O brasileiro defendeu os programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família e exortou todos os países a terminarem com a fome no mundo, além de alertar para a necessidade de que todos os países aceitem o acordo de Paris sobre mudanças climáticas, que levará a uma redução da emissão de gases de efeito estufa.
— Num mundo ainda tão marcado por ódios e sectarismos, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio mostraram que é possível o encontro entre as nações em atmosfera de paz e harmonia. Pela primeira vez, uma delegação de refugiados competiu nos Jogos. Por meio do esporte, pudemos promover a paz, lutar contra a exclusão e combater o preconceito — disse Temer.
Temer concluiu seu discurso fazendo referência a Ban Ki-moon, que se despede do controle da ONU.
— Há quase 60 anos, meu compatriota Oswaldo Aranha afirmou, desta tribuna, que “não há no mundo, mesmo perturbado como está, quem deseje ver fechadas as portas desta casa”. E alertou: sem a ONU, “as sombras da guerra desceriam sobre a humanidade para obscurecer definitiva e irremediavelmente a esperança dos homens”. É nesta assembleia das nações que cultivamos nossa esperança — disse Temer.
Durante sua fala, Temer defendeu também o fim de todos os tipos de barreiras na Agricultura, setor estratégico para o Brasil.