20/setembro/2016 11:00
Na ONU, Temer afirma que impeachment foi exemplo
brasileiro
Presidente
criticou o discurso ‘xenófobo, extremista e nacionalista’, e abordou sucesso
dos Jogos Olímpicos e fim das barreiras na Agricultura
O presidente Michel Temer na ONU
dscursa na 71ª Assembleia Geral da ONU -
Richard Drew / AP
NOVA YORK —
Em seu primeiro discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, o presidente
Michel Temer apresentou críticas a temas internacionais e fez uma defesa da
situação política do país. Ele disse que o impeachment foi um exemplo para o
mundo:
— Não há
democracia sem Estado de direito, sem normas que se apliquem a todos, inclusive
aos mais poderosos. É o que o Brasil mostra ao mundo. E o faz em meio a um
processo de depuração de seu sistema político — disse o presidente, que recebeu
aplausos apenas ao final de seu discurso de 20 minutos, cinco a mais do que o
estabelecido.
Temer
lembrou que o país “acaba de atravessar processo longo e complexo, regrado e
conduzido pelo Congresso Nacional e pela Suprema Corte brasileira, que culminou
em um impedimento” (de Dilma Rousseff).
—Tudo
transcorreu dentro do mais absoluto respeito à ordem constitucional — disse
Temer, que completou:
— Temos um
Judiciário independente, um Ministério Público atuante, e órgãos do Executivo e
do Legislativo que cumprem seu dever. Não prevalecem vontades isoladas, mas a
força das instituições, sob o olhar atento de uma sociedade plural e de uma
imprensa inteiramente livre.
O presidente
brasileiro disse que a maior tarefa agora é retomar o crescimento econômico e
restituir aos trabalhadores brasileiros milhões de empregos perdidos. “Temos
clareza sobre o caminho a seguir: o caminho da responsabilidade fiscal e da
responsabilidade social”, reforçou o presidente, que disse que a confiança ao
país já está voltando.
Na abertura
de seu discurso, Temer tratou mais de temas internacionais, afirmando que o
Brasil tem vocação de abertura ao mundo. “Somos um país que se constrói pela
força da diversidade. Acreditamos no poder do diálogo. Defendemos com afinco os
princípios que regem esta Organização”, disse Temer, antes de começar suas
críticas:
— O sistema
internacional experimenta um déficit de ordem. A realidade andou mais depressa
do que nossa capacidade coletiva de lidar com ela. De conflagrações regionais
ao fundamentalismo violento, confrontamos ameaças que, velhas e novas, não
conseguimos conter. Frente à tragédia dos refugiados ou ao recrudescimento do
terrorismo, não nos deixa de assaltar um sentimento de perplexidade. Os focos
de tensão não dão sinais de dissipar-se. Uma quase paralisia política leva a
guerras que se prolongam sem solução — afirmou.
Em uma
crítica que pode ser considerada indiretamente direcionada ao candidato
republicano Donald Trump, Temer atacou o nacionalismo exacerbado:
— A
vulnerabilidade social de muitos, em muitos países, é explorada pelo discurso
do medo e do entrincheiramento. Há um retorno da xenofobia. Os nacionalismos
exacerbados ganham espaço. Em todos os continentes, diferentes manifestações de
demagogia trazem sérios riscos — disse.
Conselho de Segurança e Olimpíada do Rio
Ele criticou
o protecionismo e reforçou o que considera os três valores principais do
Brasil: paz, desenvolvimento sustentável e respeito aos direitos humanos. Temer
também reservou críticas à ONU, defendendo uma modernização da organização :
— Queremos
uma ONU de resultados, capaz de enfrentar os grandes desafios do nosso tempo.
Nossos debates e negociações não podem confinar-se a estas salas e corredores.
Antes, devem projetar-se nos mercados de Cabul, nas ruas de Paris, nas ruínas
de Aleppo — disse o presidente, que voltou a pedir a reforma do Conselho de
Segurança da ONU, onde o Brasil quer ter um assento permanente.
— Os
semeadores de conflitos reinventaram-se. As instituições multilaterais, não.
O presidente
disse ainda que se preocupa com a falta de uma perspectiva de paz entre Israel
e Palestina e também defendeu o fim da ameaça nuclear no mundo. Temer disse que
apoia a solução de paz na Colômbia , a retomada das relações entre os Estados
Unidos e Cuba e se preocupa com o aumento de tensão na península da Coreia. O
brasileiro defendeu os programas de transferência de renda, como o
Bolsa-Família e exortou todos os países a terminarem com a fome no mundo, além
de alertar para a necessidade de que todos os países aceitem o acordo de Paris
sobre mudanças climáticas, que levará a uma redução da emissão de gases de
efeito estufa.
— Num mundo
ainda tão marcado por ódios e sectarismos, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do
Rio mostraram que é possível o encontro entre as nações em atmosfera de paz e
harmonia. Pela primeira vez, uma delegação de refugiados competiu nos Jogos.
Por meio do esporte, pudemos promover a paz, lutar contra a exclusão e combater
o preconceito — disse Temer.
Temer
concluiu seu discurso fazendo referência a Ban Ki-moon, que se despede do
controle da ONU.
— Há quase
60 anos, meu compatriota Oswaldo Aranha afirmou, desta tribuna, que “não há no
mundo, mesmo perturbado como está, quem deseje ver fechadas as portas desta
casa”. E alertou: sem a ONU, “as sombras da guerra desceriam sobre a humanidade
para obscurecer definitiva e irremediavelmente a esperança dos homens”. É nesta
assembleia das nações que cultivamos nossa esperança — disse Temer.
Durante sua
fala, Temer defendeu também o fim de todos os tipos de barreiras na
Agricultura, setor estratégico para o Brasil.