22 DE ABRIL: NINGUÉM JAMAIS IRÁ ESQUECER ESSA DATA
― Haviam se passado 45
dias de total isolamento, navegando sobre um mar tenebroso e sob um céu amedrontador
a despejar trovões, raios e sinistras tempestades. No entanto, como reza o
ditado português – “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”– quis o destino que, naquela
tardinha, já boca da noite, do dia 22 de abril do ano da graça de Nosso
Senhor Jesus Cristo de 1500 , um grito se fizesse ouvir no convés de uma nau-capitania:
“TERRA!”
O berro
esganiçado havia partido do vigia-marinheiro quando avistou, ao longe, um fiapo de terra, depois – mais
próximas – curvas amenas de montanhas e, sobressaindo-se
delas, a ponta arredondada de um monte.
Passada
a eufórica alegria da descoberta, o comandante Pedro Alvares Cabral, – um fidalgo e capitão-mor da Coroa Portuguesa de 33
anos – fez fundear a poucos quilômetros da costa, sua frota composta de 13 caravelas e de cerca
de 1400 homens.
![]() |
Desembarque de Cabral em Porto Seguro em 1500 - Óleo sobre tela de Oscar Pereira de Andrade - Pinacoteca do estado de S. Paulo |
Em terra firme, como agradecimento aos céus pelo sucesso da
jornada, Cabral pediu que se cortassem algumas árvores, e que de seus troncos
fosse levantado um altar.
Ao capelão-mor, frei Henrique de Coimbra
foi confiada a condução da primeira missa da Terra de Vera
Cruz. Curiosos e embevecidos com aquela festa estranha, vários
índios puseram ao chão suas caças, seus arcos, suas flechas, lanças
e bordunas, e expuseram – sentados ou deitados – toda a
beleza e a graça de suas nudezes.
(Ali, naqueles instantes de deslumbramento, eles desconheciam o que estaria reservado para seus descendentes, cinco séculos depois).
(Ali, naqueles instantes de deslumbramento, eles desconheciam o que estaria reservado para seus descendentes, cinco séculos depois).
![]() |
Primeira Missa no Brasil - Óleo sobre tela de Victor Meirelles - Museu Nacional de Belas Artes - Rio de Janeiro |
Rezada a missa, Cabral
ordenou ao escrivão-mor que desse ciência do feito ao rei Dom Manuel I, o
Venturoso. Horas depois, Pero Vaz de Caminha, com sua
caligrafia esmerada, registrou o fato numa minuciosa carta
. “... A terra é amena, fértil, em tal se julga que em
se plantando nela, tudo haverá de nascer e florir. Eis que aqui se
tem uma gente dócil e receptiva com seus corpos tintos e
suas raspadas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que
não havia nisso desvergonha nenhuma.”
![]() |
Trecho d carta de Pero Vaz de Caminha ao rei Dom Manoel I |
![]() |
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. |
Com essa carta-ata, estava
oficializada a posse da nova terra que iria servir de glória e riqueza ao
reino de Portugal, e que iria vivenciar, ao longo de 520 anos, entre
risos e prantos, os píncaros das
riquezas e os vales das misérias. Ao longo de 520 anos, Iria
presenciar a honradez e a cafajestagem de muitos dos seus futuros governantes.
Ontem e hoje ― uma “puta” diferença!
![]() |
Juscelino Kubitschek e Fenando Henrique Cardoso / Lula e Bolsonaro |
(como diria um certo capitão, em
seu linguajar)
Pelo que se depreende da
carta, Caminha não registrou palavrões
chulos de ofensas às senhoras mães dos intendentes da Corte
portuguesa; nem rompantes histéricos de uma recalcada duquesa-ministra de desejar mandar prender governadores e prefeitos das Províncias de além-mar. Não foi registrado nenhuma leviandade por parte dos sub- comandantes da frota. Tampouco distribuição de cargos para o grupo dos abjetos marujos do “Centrão” (assim cognominados porque, quando nos conveses das embarcações, ocupavam a bancada central, entre os "nobre colegas" que ocupam a bancada da direita, e os que ocupavam a bancada da esquerda). .Não constou da carta, sequer uma
ameaça do Comandante Cabral de demissão "generalizada" a quem não
adotasse a defesa das pautas de navegação, e/ou acatassem as diretrizes do seu Comando.
Nada consta que Pedro Alvares Cabral tenha exigido a mudança
da Superintendência dos Portos, para que ele tivesse o porto
de Lisboa sob controle, a fim de poder ali, não só poder ancorar com
segurança absoluta, como também receber informes de tudo quanto ali era
tratado sobre si próprio, e sobre sua venerada prole.
Nada dessas baixarias Caminha fez registrar em sua carta, uma
vez que não ocorreram. O Comandante Cabral era um
homem honrado e, acima de tudo, conhecedor do seu ofício de Navegador.
Um simples exemplo de sua assisada conduta ilibada deu-se quando sua tripulação foi acometida por escorbuto – a
terrível “doença dos navegantes”, causada
pela carência de vitamina C, e caracterizada por queda da resistência às
infecções, hemorragias intensas, e morte.
Cabral
não a considerou como uma “gripezinha”, um “resfriadinho de
merda”. Sua pronta ação cuidadosa foi determinar que uma
das naus ancorasse numa das ilhas atlânticas, e se abastecesse de
frutas cítricas para combater o mortífero escorbuto.
520 anos depois
A terrível doença convid-19 é causada
pelo novo coronavírus Sars-CoV-2 . Ele
é infinitamente mais contagioso e mortífero que o vírus
causador da Peste Bubônica (ou Peste Negra), assim como o vírus causador da Gripe
Espanhola.
A Peste
Bubônica assolou a Europa no século 14, matando entre 50 e 90 milhões
pessoas só na antiga Eurásia. No total, a praga pode ter
reduzido a população mundial de 450 milhões de pessoas para 250 milhões. Seus
sintomas incluíam além de febre altíssima, “inchaço” dos gânglios
linfáticos na virilha, na axila ou no pescoço, e paralisia muscular. Foi
causada pela bactéria Yersinia pestis, e foi disseminada pelo
contato com pulgas e roedores infectados.
A segunda pandemia – Gripe
Espanhola – ocorreu em 1918/1919, e vitimou entre 40 e 50 milhões de pessoas, entre
as quais o nosso então presidente Rodrigues Alves.
O vírus veio da
Europa, a bordo de um navio transatlântico. Alguns de seus passageiros, já infectados, desembarcaram no Recife, em
Salvador e no Rio de Janeiro.
Os sintomas da doença eram muito parecidos com o atual coronavírus, e era absolutamente incurável.
Em São Paulo, grande parte da população, foi atrás de um anunciado remédio caseiro feito com cachaça, limão e mel. O que ficou de pitoresco desse triste desespero é que, de acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaça, foi dessa receita supostamente terapêutica que nasceu a caipirinha.
Os sintomas da doença eram muito parecidos com o atual coronavírus, e era absolutamente incurável.
Em São Paulo, grande parte da população, foi atrás de um anunciado remédio caseiro feito com cachaça, limão e mel. O que ficou de pitoresco desse triste desespero é que, de acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaça, foi dessa receita supostamente terapêutica que nasceu a caipirinha.
Demência
em tempo de pandemia.
![]() |
Imagem: Super Rádio Tupi FM |
A
“gripezinha” do irresponsável Inquilino Passageiro do Palácio do
Planalto, que atende pelo sobrenome Bolsonaro, já
vitimou mais de 15 mil brasileiros, e tem 220 mil casos confirmados.
Sua
obsessão em debochar da pandemia, chegou ao extremo de anunciar um churrasco para amigos e familiares, a ser realizado no
sábado ( 9 de maio), no momento em que o total oficial de óbitos ultrapassava 10
mil. Em seguida, em seu total desatino, disse em gargalhadas típicas
de um demente, que foi "apenas um anúncio fake, feito para desmoralizar repórteres idiotas”. Um dia após (domingo, 10/5), enquanto os governantes de todos os
estados e municípios da Federação
determinavam luto oficial de 3 dias em respeito às lamentáveis 10 mil vítimas, o apelidado
“mito” pelos seus fanáticos camisas pardas, foi passear de Jet Ski no Lago Paranoá, gargalhando, e vociferando que “o Brasil
vive uma neurose com o novo coronavírus”.
O
incurável
![]() |
Foto: Jornal de Brasília (Divulgação) |
Na
segunda-feira (11/5) ele decretou a inclusão de academias, salões de
beleza e barbearias entre os serviços considerados
essenciais. Isto é, que podem funcionar mesmo em meio à
quarentena imposta para enfrentar a pandemia. Trata-se
de um estúpido abuso da noção de serviço essencial; afinal, pode-se perfeitamente viver sem
levantar pesos, cortar os cabelos, maquiar-se, mas não se
pode viver sem energia elétrica, transporte público e hospitais. Para
o desatinado capitão, contudo, “academia é vida”. Em
seu bizarro linguajar, ele comentou que “as pessoas têm colesterol, têm problema de estresse, mas, com academia, vão ter uma vida
mais rica de saúde”. Já sobre os salões de beleza, o capitão disse, em seu palavreado estrambólico que "fazer o cabelo do homem, dos meninos, da mulher, e unhas é questão de viver mais de higiene, pô”.
Discutir
se salões de beleza, barbearias e academias são serviços essenciais em meio a uma gravíssima pandemia –
que, ainda longe do seu pico, já ceifou a vida de mais de 15 mil brasileiros – é, no mínimo, perder o
foco do problema central. É uma DEMÊNCIA TOTAL.
![]() |
Foto: Daniel Marenco - Globo |
O Inquilino Passageiro do Palácio do Planalto, que atende pelo sobrenome Bolsonaro, investe na desordem, da qual pretende extrair capital eleitoral.
Em meio às imensas incertezas geradas pela doença conavid-19, que desafiam até os melhores administradores públicos de todo o mundo, o capitão oferece o elixir das soluções fáceis: o fim do isolamento social, e a ingestão de cloroquina – medicamento para o tratamento da malária, artrite reumatoide, e lúpus, com gravíssimos efeitos colaterais (constantes na bula), tais como: confusão mental, convulsões, queda da pressão sanguínea, alterações no electrocardiograma, e riscos de óbitos.
Em meio às imensas incertezas geradas pela doença conavid-19, que desafiam até os melhores administradores públicos de todo o mundo, o capitão oferece o elixir das soluções fáceis: o fim do isolamento social, e a ingestão de cloroquina – medicamento para o tratamento da malária, artrite reumatoide, e lúpus, com gravíssimos efeitos colaterais (constantes na bula), tais como: confusão mental, convulsões, queda da pressão sanguínea, alterações no electrocardiograma, e riscos de óbitos.
Por não
concordar com as LOUCURAS DO CAPITÃO, o ministro da Saúde, o
oncologista Nelson Teich, pediu sua demissão às 11 horas dessa sexta-feira, 15
de maio. Foi o segundo titular
responsável pela condução da Saúde Pública a SER AFASTADO DO CARGO EM DOIS
MESES.
![]() |
Foto: Jornal O Estado de Minas - Divulgação |
A estratégia é óbvia. Preocupado exclusivamente com a sua reeleição e com seu projeto autoritário de governo, o matreiro capitão que fazer crer que a pandemia não passa de “histeria” para prejudicar seu governo e que tudo seria diferente se os “inimigos do Brasil”, como ele chama aqueles que impõem limites a seu doentio projeto, “parassem de sabotá-lo”.
A lista dos bodes expiatórios do bolsonarismo é
extensa. Inclui os governadores e prefeitos que, cumprindo seus deveres, impuseram o isolamento social. Inclui o Supremo Tribunal
Federal que, em respeito ao princípio federativo, confirmou a autonomia de
Estados e municípios para gerenciar a crise como acharem melhor.
E incluía até mesmo o
ministro da Sáúde Nelson Teich (demissionário
na manhã de sexta feira, 15 de maio) – (O anterior, Luiz Henrique Mandetta, foi demitido porque contrariou o capitão ao
insistir no isolamento social como melhor forma de combater a
pandemia),
![]() |
Ex-ministro da Saúde luiz Henrique Mandetta - (Foto: Ueslei Marcelino / Reuters |
Ficará para a história a expressão do já demissionário ministro da Saúde Nelson Teich, ao tomar conhecimento por jornalistas, do decreto presidencial que ampliara a lista de “serviços essenciais" (academias, salões de beleza e barbearias). Com espanto, e de olhos arregalados, ele perguntou, totalmente incrédulo, aos jornalistas: “Isso aí!... Saiu hoje isso aí?”
![]() |
O então Ministro da Saúde Nelson Teich - Imagem: TV Brasil |
EXEMPLOS
QUE O CAPITÃO DEVERIA SEGUIR, MAS QUE IRÁ RIDICULARIZAR.
No
momento em que o “atleta” Inquilino Passageiro do Palácio do Planalto,
deliciava-se de jet iski nás águas do Paranoá, o presidente Emmanuel Macron e sua esposa
Brigitte davam plantão noturno no Hospital de Marselha. Seus plantões são: aos sábados e domingos das
8 às 17 horas. Às segundas, quartas e sextas os plantões
ocorrem das 16 horas até meia noite.
No momento em que o “atleta” Inquilino Passageiro do Palácio do Planalto, deliciava-se de Jet Ski nas águas do Paranoá, a chanceler da Alemanha Angela Merkel cumpria as 5 horas diárias do seu expediente de 10 horas para trabalhos voluntários de ajuda ao corpo clínico e de enfermagem, em hospitais públicos de Berlim.
No momento em que o “atleta” Inquilino Passageiro do Palácio do Planalto, deliciava-se de Jet Ski nas águas do Paranoá, a princesa Sofia , filha do rei Gustav e da rainha-consorte Sofia, atendia a pacientes infectados pelo novo coronavírus em hospital de Estocolmo.
![]() |
Princesa Sofia - Google Images |
esses Estadistas – verdadeiros samaritanos – não passam de COMUNISTAS,
que merecem ser banidos.
que merecem ser banidos.
O FIM
Felizmente,
cada vez mais brasileiros diagnosticam o capitão como
INCURÁVEL. Em recente pesquisa, a Datafolha indica que, em quatro
meses, a avaliação negativa do governo subiu de 26,6% para 73,4%, enquanto a
avaliação positiva caiu de 69,75% para 30,25%.
E nem
chegamos à metade do mandato. Donde se conclui que, em meio à
disputa feroz entre o capitão e o coronavírus para ver quem
é o pior para o Brasil, o capitão ganha disparado.
Por fim, só nos resta
esperar que as nossas confiáveis Instituições, constituídas pelo Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional, assim como a Imprensa escrita e falada, façam valer seus papéis de guardiães e mantenedores
do Estado Democrático de Direito, e se atenham à parafraseada observação de
Macunaíma:
"Ou o Brasil
acaba com a palhaçada, ou a palhaçada acaba com Brasil"
![]() |
Foto: Dida Mendonça - Estadão |
Fontes: Encyclopædia
Britannica / MASP / História Geral
do Brasil (Karl
Schurster) Época/ /Jonal do Brasil/ Correio Braziliense / O Globo / TV Brasil / Veja / O Estado
de S. Paulo / Folha de S. Paulo / Anatomia relativa às Belas Artes ( Félix-Émile. Taunay)