sexta-feira, 30 de setembro de 2016



'TROPEÇO' FOI FATIAR VOTAÇÃO DO IMPEACHMENT, diz Gilmar Mendes


Ministro rebateu declaração de Ricardo Lewandowski sobre afastamento de Dilma




O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, rebateu nesta quinta-feira (29) as declarações do também ministro do STF, Ricardo Lewandowski, que disse que o impeachment de Dilma Rousseff havia sido um "tropeço" na democracia. “Acho que o único tropeço que houve foi aquele do fatiamento, o DVS [destaque para votação em separado] da própria Constituição, no qual teve contribuição decisiva o presidente do Supremo”, disse Gilmar. Lewandowski, que à época presidia o STF, conduziu o julgamento do impeachment no Senado.
No julgamento do impeachment, Lewandowski aceitou o destaque apresentado pela bancada do PT, que pediu que a votação do impeachment fosse dividida em duas partes. Assim, Dilma manteve os direitos políticos, apesar de ter tido o seu mandato cassado.

'Tropeço' foi fatiar votação do impeachment, disse Gilmar Mendes, rebatendo Lewandowski
'Tropeço' foi fatiar votação do impeachment, disse Gilmar Mendes, rebatendo Lewandowski

'Tropeço da democracia'
Ricardo Lewandowski afirmou na segunda-feira (26) que o impeachment de Dilma Rousseff foi um "tropeço na democracia" do Brasil. "Esse impeachment, todos assistiram e devem ter a sua opinião sobre ele, mas encerra exatamente um ciclo, daqueles aos quais eu me referia, a cada 25, 30 anos no Brasil, nós temos um tropeço na nossa democracia. Lamentável”, declarou. 
A declaração foi feita durante aula ministrada pelo ministro na Faculdade de Direito da USP, da qual é professor titular, e foi registrada pela revista Carta Capital e pela Caros Amigos.
Lewandowski argumentou que o modelo do presidencialismo de coalizão, com diversos partidos políticos, levou ao processo de cassação da ex-presidente. "O presidencialismo de coalizão saiu disso, com grande número de partidos políticos, até por erro do Supremo, que acabou com a cláusula de barreira, e deu no que deu", disse o ministro.
A reforma do ensino médio imposta pelo governo de Michel Temer por meio de Medida Privisória, sem debate com a sociedade, também foi criticada pelo ministro do STF. "Alguns inominados, fechados lá no gabinete, que resolveram: 'vamos tirar educação física, artes, isso e aquilo'. Não se consultou a população", afirmou.
Para Lewandowski, o governo precisa realizar mais plebiscitos e referendos, para consultar a população sobre leis importantes antes de elas entrarem em vigor, como no referendo de 2005 em relação ao desarmamento. "Entre nós, a participação popular é muito limitada", disse. "Raramente houve plebiscito ou referendo." 

segunda-feira, 26 de setembro de 2016



Palocci defendia interesses da Odebrecht junto à administração federal, aponta PF

Investigadores indicam que Marcelo Odebrecht tinha ciência e autorizava propinas

Antonio Pallocci chega à PF em São Paulo - Pedro Kirilos / O Globo


O ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci atuou no poder público na defesa de interesses da Odebrecht, apontou a força-tarefa da Operação Lava Jato em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (26). Palocci foi preso temporariamente durante a manhã, pela Operação Omertá, na 35ª fase da Lava Jato. A Polícia Federal havia solicitado prisão preventiva, mas o juiz Sérgio Moro decidiu pela detenção de cinco dias. 

De acordo com o delegado Filipe Hille Pace, o material apreendido na 23a. fase também permitiu "afirmar com certeza" que Marcelo Odebrecht, preso desde 19 de junho de 2015, em Curitiba, "coordenava e autorizava pagamentos de propina" não só para Antonio Palocci como para outros agentes. Ele citou pagamentos a obras como da Linha 2 de São Paulo, metrô de Ipanema do Rio de Janeiro, obras no aeroporto Santos Dumont, entre outras. 
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Os investigadores também apontaram que Palocci teve um papel maior que o ex-ministro José Dirceu em esquemas, pelo menos de 2008. Em fase anterior, contudo, José Dirceu foi apontado como principal líder do esquema. Neste mês, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também foi apontado como "comandante máximo" do esquema. Questionados sobre quem seria de fato o real líder do esquema de propina, a procuradora Laura Gonçalves Tessler respondeu que ainda é "muito cedo" para fazer afirmações neste sentido.
Logo na abertura da coletiva, o delegado Igor Romário de Paulo leu nota oficial da direção da Polícia Federal  respondendo a críticas às declarações do ministro da Justiça do governo de Michel Temer, Alexandre de Moraes, que antecipou a realização de nova fase da operação Lava Jato na véspera. Nesta segunda, o ministro alegou que não fez qualquer antecipação e que apenas comentou que poderia ocorrer novos desdobramentos da Lava Jato já que, desde que entrou no governo, novas fases têm sido deflagradas semanalmente.
A nota da PF ressalta que "somente as pessoas diretamente responsáveis pela operação possuem conhecimento de seu conteúdo". 
Mais tarde, o delegado também procurou afastar o caráter "eleitoreiro" das investigações. "É o tempo da investigação e não tem qualquer relação [com eleições]". 
O delegado Filipe Hille Pace explicou que a fase atual é resultado do aprofundamento das investigações da Operação Acarajé, que prendeu João Santana e a mulher dele Mônica Moura, e da planilha encontrada. Ele explicou que a força-tarefa não sabia a quem a Odebrecht se referia com a expressão "italiano", e que a 26a. fase foi essencial para realizar novas análises. 
Foi o "conhecimento" fornecido pela colaboradora Maria Lúcia Guimarães Tavares que permitiu uma "nova análise" do material apreendido, quando então se chegou a informação de que "italiano" se referia a Antonio Palocci Filho, "sem sombra de dúvida". 
A força-tarefa indicou que tal planilha consistiria em uma conta corrente que Palocci tinha com a Odebrecht. Os primeiros pagamentos seriam de 2008, período de eleições municipais, e haveria também diversos lançamentos de 2009 a 2012.
Uma outra planilha encontrada em um aparelho BlackBerry apreendido na 14a fase da Lava Jato mostrava pagamentos de 2013. 
Eles também esclareceram que, durante a 23a fase, chegou-se a cogitar que "JD" diria respeito ao ex-ministro José Dirceu, mas que na verdade as iniciais eram relacionadas a Juscelino Antonio Dourado, que já foi chefe de gabinete de Palocci. 
O foco hoje da Operação é essa conta corrente informal paralela, como definiu a procuradora Laura Tessler, que seria gerida por Palocci, e o envolvimento deste em esquemas como mediação em favor da empreiteira para MP, aquisição de terreno que seria para o Instituto Lula, contratos de sonda com a Petrobras, e alguns elementos relativos a crédito e Angola e ao programa Prosub.