21/03/2017 às 15h50
= O Globo =
‘Há uma tentativa de acabar com a Lava-Jato’, diz Miro Teixeira a
Moro
Deputado depôs como testemunha e disse que
figurões sairão “ricos, livres, isentos e anistiados”
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O deputado federal
Miro Teixeira (Rede-RJ) - Gustavo Lima/Câmara dos Deputados/Divulgação
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O deputado federal
Miro Teixeira (Rede-RJ) - Gustavo Lima/Câmara dos Deputados/Divulgação
Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, o deputado federal
Miro Teixeira (Rede-RJ) alertou que há uma “grande manipulação para fazer
cessar os efeitos da Lava-Jato nos figurões do Brasil”. O deputado há mais
tempo na Câmara dos Deputados prestou depoimento nesta terça-feira como
testemunha convocada pelo ex-ministro Antonio Palocci. Segundo Miro, aqueles
que chamou de “figurões” sairão ricos, livres, isentos e anistiados enquanto
seus cúmplices ficarão na cadeia.
— O que se passa aqui em Brasília é uma vergonha
absoluta. Há uma tentativa de desqualificar a Lava-Jato, há uma tentativa de
acabar com a Lava-Jato. Mas acabar a Lava-Jato para esses que detém foro
especial por prerrogativa de função. É uma situação que vai submeter o Brasil
ao ridículo internacional. Os empresários que são cúmplices dos políticos, que
estão presos, as empresas que estão fechadas, os empregos estão perdidos. E os
políticos saem ricos — disse Teixeira.
No fim do depoimento, o próprio juiz Sérgio Moro
questionou o deputado sobre a influência da proposta de adotar o sistema de
lista fechada nas eleições legislativas. O projeto foi citado pelo deputado
anteriormente no seu depoimento como uma das tentativas utilizadas pelos
“figurões”.
— Essa questão, embora não seja tão pertinente, essa
questão da lista fechada teria alguma coisa a ver com isso? — perguntou Moro.
— Só tem. A lista fechada, que não é nova na discussão, é
uma forma de criminalizar a política. Primeiro, surge atribuindo ao
financiamento de campanha as dificuldades do nosso setor. Juiz, a corrupção
existe porque existe corrupto. O roubo existe porque existe ladrão. A
democracia não pode ser responsabilizada. Senão, as ditaduras seriam íntegras.
Não há eleições, então não há corrupção? Estão criminalizando a política pelos
fatos criminais praticados por políticos. A política não é isso, não é nada
disso. Estão roubando para o próprio bolso para construir fortunas enormes
botando a culpa no processo eleitoral — respondeu Miro Teixeira, que defendeu a
realização de um plebiscito para a realização de uma reforma política.
PALOCCI FICOU “ENCANTADO”
Em seu depoimento, Miro respondeu perguntas do advogado
de Antonio Palocci e Branislav Kontic, José Roberto Batochio. Em uma das
respostas, Miro Teixeira afirmou que, enquanto era ministro da Fazenda, Palocci
era reverenciado pelo setor econômico.
— Por muitas lutas passadas, tínhamos uma identidade. Mas
depois que chegou ao poder, Palocci ficou muito encantado pelos direitos da
iniciativa privada — afirmou Teixeira.
Palocci é denunciado pelo Ministério Público Federal por
favorecer os interesses da empreiteira Odebrecht enquanto Ministro da Fazenda e
deputado federal. Segundo Teixeira, todavia, nunca soube de nenhuma
irregularidade praticada por Palocci. Miro lembrou de duas ocasiões em que ele
e Palocci teriam se aliado. Em um caso, lembrou de um projeto que supostamente
favoreceria a marinha mercante e, com a ajuda de Palocci, teria derrubado uma
emenda em uma comissão especial na Câmara dos Deputados.
— Nós podemos não ter a notícia exata de que tem uma
falcatrua em alguma coisa, mas o cheiro do que se passa nos permite desconfiar.
E o Palocci chegou para mim nessa comissão especial e disse: “Tem aqui uma
emenda que é para roubar a pátria, nós temos que impedir a aprovação dessa
emenda — disse Teixeira.
Segundo o deputado, ele e Palocci passaram a madrugada e
venceram a obstrução, impedindo a votação da emenda. Em outro caso, ao falar
sobre uma reunião no início do governo Lula, Teixeira falou que ele e Palocci
discordaram da estratégia de negociação com outros partidos para a formação de
uma maioria parlamentar.
— E o Palocci imediatamente me deu razão: o PSDB pode
muitas vezes vir apoiar as ideias sem cobrar participação no governo. Mas o
clima que se instalou ali na hora foi de repulsa a nossas ideias — disse.
Segundo o deputado, os dois deixaram a reunião após serem
“vencidos hostilmente”.
— Houve quem dissesse na sala que “esse Congresso burguês
só atendia a essa linguagem de distribuição de recursos orçamentários”. Não era
uma linguagem de interesse do país, de programas — disse.