quinta-feira, 30 de abril de 2020


―   CANÇÕES E MOMENTOS   
Há 15 anos atrás, exatamente em um dia como o de hoje, comecinho de primavera, com flores brotando ou já abertas,  arreganhando suas cores e seus perfumes;  e capins e gramas vicejando por campos afora; enfim, em um dia como o de hoje, – 30 de abril – este blog recebia do Google, via sua plataforma Blogger,  a aprovação do conteúdo proposto (política)  e a liberação para uso de seu título (BARRACO DO LAGO).  Por intermédio do hospedeiro blogspot,  criamos o layout atual (um barraco –  executado a nanquim e crayon – recortado de uma foto do Palácio do Alvorada, projeto de Oscar Niemeyer e que serve para a moradia presidencial, decorada por alvas colunas, e um sereno e espelhante  lago.azul).
Foto-montagem:   Luís Lago_Photos&Arts
Hoje, neste dia comemorativo, nós particularmente nos encontramos muito felizes, por estar nos resguardando das rasteiras que podem advir deste altamente contagioso, letal, e traiçoeiro vírus convid-19;  bem como e isso é o mais importante de tudo não permitir que meus amigos atuais (assim como aqueles que poderão vir a se tornar) venham a ser contaminados por uma desobediência à tão capital quarentena;  Também meus colegas de labuta, afortunados e/ou desafortunados;  Da mesma forma, os conhecidos ou desconhecidos transeuntes.  Enfim, meus semelhantes pretos, brancos, morenos, amarelos, hipocorados de todas as raças e credos de todas as idades;  homens, mulheres,  e  de todos os gêneros homossexuais, heterossexuais, bissexuais, transexuais.  E os que estão alegres ou tristes;  bem como todos os que estão chocados, acabrunhados, chorosos por tantas mortes.  E, acima de tudo, todos os que estão  revoltados diante da patifaria demagógica desta  imitação barata de governante que ri e faz pilhéria diante desta tragédia humana.
Foto:  Sérgio Lima / AFP
Como diz a canção “Promessas do sol”  de Milton Nascimento e  Fernand Brant: – Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?

As governanças (e desgovernanças) nossas de cada dia,  sob os balanços do rock e do samba,  e os embalos das baladas.

Diga-se de passagem que o ilustre lago azul do planalto central  "desta terra descoberta por Cabral"   como diz uma das canções do menestrel Juca Chaves – tem assistido as mais variadas idiossincrasias de alguns dos empossados governantes (ou daqueles que nos foram enfiados goelas abaixo).
      Seja o visionarismo empreendedor de Juscelino Kubitschek;  seja o nefasto transtorno de personalidade  esquizoide  do Jânio Quadros (característica similar à do atual Jair Bolsonaro); seja pelo afoito reformismo de João Goulart;
Os presidentes Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, João Goulart       -      Fotos: Jornal do Brasil
      Seja pelo pseudo-salvadorismo do golpe militarista de 64 (desde o efêmero Castelo Branco; seguido pelo inculto Costa e Silva, o truculento Garrastazú Médici, o “pacificador” Ernesto Geisel, e o tacanho João Figueiredo, o qual, sendo um praticante do hipismo costumava dizer em alto e bom som: Prefiro o cheiro de um cavalo ao cheiro do povo”.

       Seja, por fim,  pelos acertos e desacertos da pós ditadura. 
Vejamos e analisemos, ainda que telegraficamente,  esses dois aspectos:
       
       Acertos:
Presidentes Itamar Franco e Fernando Cardoso, criadores do Plano Real  -  Foto: Pedro Vilela / Agência Estado
Itamar Franco e  Fernando Henrique Cardoso pela honestidade em seu mais amplo sentido, e  não por último, mas fundamentalmente –  pela inteligência da criação e implantação do Plano Real, pondo fim a uma economia destroçada pelo militarismo e seu monstrengo rotulado de Plano Nacional de Desenvolvimento I e II (1972-1974 e 1975-1979, respectivamente) . Foram cognominados de Milagre Brasileiro.   Ambos foram, sim:  uma aberração que gerou um endividamento e uma inflação de 1.764%  
(Hoje, com a abertura dos arquivos daquela época, sabe-se que a hiperinflação advinda do famigerado Plano Nacional de Desenvolvimento foi criminalmente manipulada. Ou seja: o  "buraco" foi extremamente maior).    
  
     Desacertos:
Lula e Bolsonaro        -       Imagem:  Sérgio Lima / Poder 360
 Para este subtítulo, melhor caberia:   As falcatruas e roubalheiras do lulopetismo. Assim como (talvez até em doses elevadas) as ordinarices, as  desfaçatezes, as vilezas antidemocráticas do pseudo-governante Jair Messias Bolsonaro &filhos,   &corriola fanática, medíocre e boçal.

Vejamos, agora, 15 canções capazes de agitar as águas do lago do Palácio da Alvorada   
Foto: www.trekearth.com / members: lpcanhak
 Para as páginas da Crônica Política brasileira;  páginas enxovalhadas de lama (melhor seria dizer: de excrementos),  os cancioneiros brasileiros têm reservado um parte de suas almas.  Eles, em suas verves, vêm expondo as sujeiras dos políticos ordinários aos quatro cantos, com suas melodias, com suas canções.  
São dezenas e mais dezenas delas.   Relacionamos 15,  para este nosso aniversário;  para essa nossa essencial Quarentena.  Vamos à elas, sem mais delongas.
E daí?... E daí?...  – Milton Nascimento e Ruy Guerra
Brasil, mostra a tua cara  – Cazuza
  •  Veja o clipe da canção  Brasil mostra a tua cara em  
            https://www.youtube.com/watch?v=_nQZ75ciKGg
Foto: Jornal  Estado de Minas
Que país é este? – Renato Russo
Moleque sacana – Rita Lee e Roberto de Carvalho
Apesar de você Chico Buarque de Holanda
Saquear Brasília – Dinho Ouro-Preto e Alvin L.  (Banda Capital Inicial)
Manifestante contra o STF e o Congresso -
 https://fotografia.folha.uol.com.br/
galerias/1661240212994236-
#foto-1661257911867904 
Podres poderes – Caetano Veloso
Veja o clipe da canção Podres Poderes em     https://www.youtube.com/watch?v=nZr1Op3FIkk

Cowboy fora da lei  
– Raul Seixas
Bolsonaro pratica tiro com fuzil HK416  - Imagem: Printest / Publicação: Youtube
Até quando?  – Gabriel, o pensador
Vossa Excelência  – Paulo Miklos e Tony Belloto  (Titãs)
Palhaçada   – Luiz Reis e Haroldo Barbosa     
Foto:  Dida Sampaio  / Agência Estado
Inútil – Nelson Motta
Se gritar pega ladrão  – Bezerra da Silva
Vai passar   – Chico Buarque de Holanda

Pra não dizer que não falei das flores  – Geraldo Vandré
      

domingo, 26 de abril de 2020


A BOLA DA VEZ

― Fontes: The Financial Times / Época Negócios / The Economist / O Estado de S. Paulo / Folha de S. Paulo /Jornal da Cultura Jornal do Brasil 
Foto:  miss Treechada Yoksan  /  Shutterstock.com

Na Sinuca, esse maravilhoso jogo de mesa, taco e bolas praticado no Brasil (e que constitui uma variante do snooker, inventado em 1875 na Grã-Bretanha), dois adversários, ou mais, tentam colocar num dos seis buracos da mesa as bolas coloridas numa seqüência definida pelas regras.  Após encaçapada,  a bola da vez não retorna ao jogo.
Dissemos acima que a sinuca é um jogo maravilhoso.  Também, com esse mesmo adjetivo, era rotulado um Salão de Jogos de sinuca:  Maravilhoso.  Um nome mais do que feliz.  E a razão é simples: de todos os salões de sinuca que já fizeram a alegria dos aficionados por esse jogo de salão na cidade de São Paulo, o Maravilhoso foi o melhor.   Sem exagero.

Um templo da sinuca
Foto:  Arquivo do blog 
Para aquela confraria, nos anos 60 e 70. composta por: desocupados, estudantes,  executivos, aposentados, publicitários,  bicheiros, jornalistas, e outros tipos da fauna paulistana, o Maravilhoso era solo sagrado.   A começar pela sua localização.  Exatamente nos dois pontos mais míticos da cidade: – as avenidas Ipiranga e São João.  Onde, algum tempo depois, o compositor baiano Caetano Veloso, iria derramar toda a sua poesia apaixonada.
Ali ficava ele, o Maravilhoso, do lado esquerdo de quem subia a avenida  Ipiranga em direção à São João,  no número 878, pouco depois do terminal do Expresso Luxo e pouco antes do Bar e Restaurante Avenida.

Os maestros do encantamento regiam o espetáculo, sem hipocrisia

Diversão, sem frescuras!”  Esse bordão, aparentemente simples,  tornou-se indelével na memória de todos aqueles que iam ao Maravilhoso para se emocionar com as jogadas desconcertantes de tão magníficas, dos mágicos:   Carne-Frita,  Quincas, Leão, Gaguinho, Boca Murcha, Mané Português, Jota Cristo, Zé Tigrão, Ceará, Rui Mogi (que mais tarde ficaria famoso como Rui Chapéu).  e outras "peças raras" da casa. 
Um bando de fazer qualquer zoológico, hospício ou delegacia morrer de inveja. E de deixar qualquer trabalhador incauto sem um tostão furado no bolso. Porque no Maravilhoso o jogo era jogado a dinheiro. E este corria mais rápido do que uma bola sete no fundo da caçapa.

Carne-Frita e A BOLA DA VEZ  

Walfrito  Rodrigues dos Santos, o Carne Frita  -  Google Images
Ele nasceu em 29 de outubro de 1929.  Era uma tarde sergipana de domingo.  Na pia batismal da capela,  e depois no cartório de Propriá os pais deram-lhe o nome de Walfrito Rodrigues dos Santos.  O nome recebido  Walfrito ― ele carregou por 90 anos, associado ao apelido Carne-Frita,  cunhado-lhe por um palhaço circense que fizera um trocadilho com a segunda sílaba de seu nome. e juntando-a ao símbolo de sua aguda magreza causada pela miséria e fome.
A partir dos 10 anos, tornou-se um atento observador das tacadas dadas numa mal ajambrada mesa de bilhar de um boteco em Propriá.  Aos 15 já demonstrava sua agilidade de encaçapar todas as bolas coloridas, antecipando-lhe o altíssimo grito: ― A BOLA DA VEZ!  e que se tornaria sua marca registrada. 
Walfrito  Rodrigues dos Santos, o Carne Frita  -  Google Images
Quando o conheci no salão de bilhar Maravilhoso, eu tinha 19 anos, contra os 33 dele. Eu havia “aportado” em São Paulo 10 meses antes.  Ele já ostentava sua maestria– diariamente – havia 10 anos,  sempre acompanhado do grito A BOLA DA VEZ! 

A bola da vez” : uma expressão significativa

Os dicionários trazem uma acepção diferente para a expressão "A bola da vez":  alguém que vai ser cortado, ou que está prestes a ser cortado de uma equipe;  ou de um time;  ou  de uma empresa.
Os dicionários salientam que se trata de uma gíria muito usada, e dão exemplos como este que se refere a uma situação empresarial: “O chefe está se indispondo com o Márcio. Tudo indica que ele será a bola da vez”

Paulo Guedes:  a bola da vez?
Foto: Adriano Machado / REUTERS
Depois de Luiz Henrique Mandetta, demitido da Saúde, e do auto-afastamento de Sergio Moro do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, o ministro da Economia Paulo Guedes passou a ser considerado “a bola da vez” da fritura feita pela ala ligada aos filhos de Bolsonaro,  por insistir no discurso de manutenção da sua política de ajuste fiscal.
Uma nova demonstração da dependência do governante  Messias Bolsonaro às “orientações ideológicas” dos filhos – os tais O1O2O3 – está ligada a um plano econômico rotulado de Pro-Brasil. 

 Embate
embate entre as visões econômicas dentro do governo foi escancarado publicamente com o tal de Plano Pró-Brasil, que em um de seus eixos prevê dinheiro público para bancar obras em infraestrutura.
Guedes entre os ministros Braga Netto e Augusto Heleno na coletiva de Bolsonaro
O ministro chefe da Casa Civil, general da ativa Walter Braga Netto ― escolhido por Bolsonaro para por em ação um plano econômico para buscar a recuperação da economia pós-pandemia  disse na quarta-feira (22 de abril) que o Pró-Brasil tem como meta o crescimento socioeconômico e que todos os ministérios estão envolvidos na discussão do plano”.   Mas, no entanto, a principal chave – o ministro da Economia Paulo Guedes  sequer foi consultado.
De super-ministro a “comunista” 
Foto: Aloísio Maurício - Fotoarena

Com a resistência do ministro aos planos “desenvolvimentistas” do presidente, os bolsonaristas ligados ao astrólogo Olavo de Carvalho, “guru” de Bolsonaro – residente em  Richmond (Virgínia) – querem impor ao ministro Paulo Guedes   a pecha de  "inimigo dos pobres” e, ao mesmo tempo, de "COMUNISTA"

Pela fragilidade da personalidade de Bolsonaro,  pela sua instabilidade emocional, somadas à sua inaptidão total para governar o País, é que o mercado financeiro, avalia que Guedes pode ser a próxima “bola da vez”.    

E o que é pior: poderá ser substituído por um deputado do chamado “baixo clero”: Roberto Jefferson, Valdemar Costa Neto, por exemplo.  Ou até (quem sabe?) a “super-star” deputada Carla Zambelli.
 

Imagem:  TV Brasil / Divulgação: TV Globo