25/out/2019 - 10:40h
Revista Veja
Marcos
Valério cita Lula como um dos mandantes da morte de Celso Daniel
Em depoimento inédito, o operador conta que o
ex-presidente deu aval para pagar a chantagista que iria apontá-lo como
envolvido no assassinato do prefeito
Por Hugo Marques / VEJA
25 out 2019, 12h17 - Publicado em 25 out 2019,
07h06
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Marcos Valério / Imagem: VEJA (reportagem) |
ELE
VOLTOU – No depoimento, que também foi gravado em vídeo, Valério reproduz o
diálogo que teve com Ronan Maria Pinto, em que ele teria dito que apontaria
Lula como o “cabeça da morte de Celso Daniel”
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Lula - Foto: Ricardo Stuckert / Publicada em Veja |
No fim da década de 90, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza começou a construir uma carreira que transformaria radicalmente sua vida e a de muitos políticos brasileiros nas duas décadas seguintes. Ele aprimorou um método que permitia a governantes desviar recursos públicos para alimentar caixas eleitorais sem deixar rastros muito visíveis. Ao assumir a Presidência da República, em 2003, o PT assumiu a patente do esquema. Propina, pagamentos e recebimentos ilegais, gastos secretos e até despesas pessoais do ex-presidente Lula — tudo passava pela mão e pelo caixa do empresário. Durante anos, o partido subornou parlamentares no Congresso com dinheiro subtraído do Banco do Brasil, o que deu origem ao escândalo que ficou conhecido como mensalão e levou catorze figurões para a cadeia, incluindo o próprio Marcos Valério. Desde então, o empresário é um espectro que, a cada aparição, provoca calafrios nos petistas. Em 2012, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) já o condenara como operador do mensalão, Valério emitiu os primeiros sinais de que estaria disposto a contar segredos que podiam comprometer gente graúda do partido em crimes muito mais graves. Prometia revelar, por exemplo, o suposto envolvimento de Lula com a morte de Celso Daniel, prefeito de Santo André, executado a tiros depois de um misterioso sequestro, em 2002.
Na época, as autoridades desconfiaram que a
história era uma manobra diversionista. Mesmo depois, o empresário pouco
acrescentou ao que já se sabia sobre o caso. Recentemente, no entanto, Valério
resolveu contar tudo o que viu, ouviu e fez durante uma ação deflagrada para
blindar Lula e o PT das investigações sobre o assassinato de Celso Daniel. Em
um depoimento ao Ministério Público de São Paulo, prestado no Departamento de
Investigação de Homicídios de Minas Gerais, a que VEJA teve acesso, o operador
do mensalão declarou que Lula e outros petistas graduados foram chantageados
por um empresário de Santo André que ameaçava implicá-los na morte de Celso
Daniel. Mais: disse ter ouvido desse empresário que o ex-presidente foi o
mandante do assassinato.