sábado, 18 de junho de 2016

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Renan Calheiros e Rodrigo Janot, entre farpas e tensões

Impeachment de PGR, sinalizado por presidente do Senado, pode deflagrar nova crise


Ao comentar pedido de sua prisão, Renan afirmou que Janot "extrapolou o limite do ridículo"
Ao comentar pedido de sua prisão, Renan afirmou que Janot "extrapolou o limite do ridículo"

Jornal do BrasilEduardo Miranda
As últimas declarações do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os atos recentes do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, fazem lembrar o ano de 2015, quando a presidente afastada Dilma Rousseff e o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) passaram longos meses entre a batalha do impeachment da petista e o avanço do processo de cassação de mandato do peemedebista no Conselho de Ética da Câmara.
À época, Cunha atacou quando deputados petistas integrantes do Conselho de Ética declararam que votariam pela cassação do então presidente da Câmara, atualmente afastado da função. No mesmo dia, o deputado do PMDB convocou os jornalistas e afirmou que estava aceitando oficialmente o pedido de Miguel Reale Jr., Janaína Paschoal e Hélio Bicudo para impedir o mandato da presidente Dilma. A reação foi interpretada como vingança.
Eduardo Cunha
Visto como moderado, Renan surpreendeu ao sinalizar, na semana passada, que pode aceitar um dos nove pedidos de impeachment de Janot. O Congresso Nacional, cuja popularidade em pesquisa do Datafolha não chega a 10%, pode deflagrar mais uma dentre as inúmeras crises políticas que acometem o país desde as eleições presidenciais de 2014 e corre o risco não apenas de aprofundar o fosso entre representados e representantes no parlamento, mas abrir uma ampla cisão entre as instituições.
Nesta quinta-feira (16), após Renan afirmar que Janot “extrapolou o limite do ridículo”, seis entidades ligadas aos diversos segmentos do Ministério Público divulgaram nota questionando a reação do presidente do Senado. “No momento em que um membro do Ministério Público move o sistema de Justiça para responsabilizar faltosos, é natural a reação adversa dos chamados a se explicar. Quando a sociedade assiste a ataques ao PGR, presencia exatamente o mesmo comportamento, apenas com a diferença de que entre os investigados incluem-se algumas das maiores autoridades do país”, afirma a nota.
Diante do vendaval político, aliados do peemedebista enxergaram como trégua a reação do PGR naquele mesmo dia. Rodrigo Janot pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o arquivamento de uma das investigações sobre o presidente do Senado. Segundo a PGR, o arquivamento foi pedido por falta de provas contra o senador. Renan se iguala a Janot pelo menos em um ponto: ele tem contra si nove inquéritos, tal como os nove pedidos de impeachment do procurador.
Um novo ingrediente, porém, colaborou para aumentar a tensão. Ao determinar o fim do sigilo da delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, o ministro Teori Zavascki, do Supremo, deixou patentes as diferenças do presidente do Senado com o procurador-geral da República, reconduzido ao posto de chefe do Ministério Público Federal (MPF) em setembro do ano passado.
Afirma Sérgio Machado, no documento da delação, que “Renan tentou impedir que ele (Janot) fosse reconduzido em razão do avanço e desdobramentos da Lava Jato, mas a pressão da opinião pública pela recondução de Janot impediu que Renan lograsse êxito, ou seja, não havia clima no Congresso para isso e na política ‘ninguém é mosqueteiro’, o que significa dizer que Renan não quis ir contra a ‘voz rouca das ruas’”, registra o depoimento.
No PMDB, especulações sobre reais intenções de Renan
No PMDB, a reação de Renan é vista por diferentes ângulos. Alguns interlocutores afirmam que a preocupação do presidente do Senado é com o avanço da Lava Jato e os danos sobre o Congresso e o Palácio do Planalto. No governo do presidente interino Michel Temer, três ministros já deixaram os cargos depois de denúncias. O próprio Temer aparece na delação de Machado, como solicitante de propina para a campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo.
Outros peemedebistas ousam na interpretação -- com aura de "teoria da conspiração" -- dos gestos de Renan, e lembram, colocando em retrospectiva a relação do senador com Temer, que ambos já trocaram acusações publicamente, às vésperas da eleição para comandar o PMDB, em maio deste ano. Para estes, um impeachment de Janot, além de possibilitar a salvação de Renan, poderia acelerar a deterioração da imagem do governo Temer, que tem diversos membros como alvo da Lava Jato.

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