A BOLA DA VEZ
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Fontes: The Financial
Times / Época Negócios / The Economist / O Estado de S. Paulo / Folha de S. Paulo /Jornal da Cultura / Jornal do Brasil
Foto: miss Treechada Yoksan / Shutterstock.com |
Na
Sinuca, esse
maravilhoso jogo de mesa, taco e bolas praticado no Brasil (e que constitui uma
variante do snooker, inventado em
1875 na Grã-Bretanha), dois adversários, ou mais, tentam colocar num dos seis
buracos da mesa as bolas coloridas numa seqüência definida pelas regras. Após
encaçapada, a bola da vez não retorna
ao jogo.
Dissemos acima que a sinuca
é um jogo maravilhoso. Também, com
esse mesmo adjetivo, era rotulado um Salão de Jogos de sinuca: “Maravilhoso”. Um nome mais do que feliz. E a razão é simples: de todos os salões de
sinuca que já fizeram a alegria dos aficionados por esse jogo de salão na
cidade de São Paulo, o Maravilhoso foi
o melhor. Sem exagero.
Um templo da sinuca
Foto: Arquivo do blog |
Para aquela confraria, nos
anos 60 e 70. composta por: desocupados,
estudantes, executivos, aposentados, publicitários, bicheiros, jornalistas, e outros tipos da
fauna paulistana, o Maravilhoso era
solo sagrado. A começar pela sua localização. Exatamente nos dois pontos mais míticos da cidade: – as avenidas Ipiranga e São João. Onde, algum tempo depois, o compositor baiano
Caetano Veloso, iria derramar toda a sua poesia apaixonada.
Ali ficava ele, o Maravilhoso, do lado esquerdo de quem
subia a avenida Ipiranga em direção à São
João, no número 878, pouco depois do
terminal do Expresso Luxo e pouco antes do Bar e Restaurante Avenida.
Os maestros do encantamento regiam o espetáculo, sem hipocrisia
“Diversão, sem frescuras!” Esse
bordão, aparentemente simples, tornou-se
indelével na memória de todos aqueles que iam ao Maravilhoso para se emocionar com as jogadas desconcertantes de tão magníficas, dos mágicos: ― Carne-Frita, Quincas, Leão, Gaguinho, Boca Murcha, Mané Português, Jota Cristo, Zé Tigrão, Ceará, Rui Mogi (que mais tarde ficaria famoso como Rui Chapéu). e
outras "peças raras" da casa.
Um bando de fazer qualquer
zoológico, hospício ou delegacia morrer de inveja. E de deixar qualquer
trabalhador incauto sem um tostão furado no bolso. Porque no Maravilhoso o jogo era jogado a
dinheiro. E este corria mais rápido do que uma bola sete no fundo da caçapa.
Carne-Frita e A BOLA
DA VEZ
Walfrito Rodrigues dos Santos, o Carne Frita - Google Images |
Ele nasceu em 29 de outubro de
1929. Era uma tarde sergipana de
domingo. Na pia batismal da capela, e depois no cartório de
Propriá os pais deram-lhe o nome de Walfrito Rodrigues dos Santos. O nome recebido ― Walfrito ― ele carregou por 90 anos, associado ao apelido Carne-Frita, cunhado-lhe por um palhaço circense que
fizera um trocadilho com a segunda sílaba de seu nome. e juntando-a ao símbolo de sua
aguda magreza causada pela miséria e fome.
A partir dos 10 anos,
tornou-se um atento observador das tacadas dadas numa mal ajambrada mesa de
bilhar de um boteco em Propriá. Aos 15
já demonstrava sua agilidade de encaçapar todas as bolas coloridas, antecipando-lhe
o altíssimo grito: ― A BOLA DA VEZ! e que se tornaria sua marca registrada.
Walfrito Rodrigues dos Santos, o Carne Frita - Google Images |
Quando o conheci no salão de
bilhar Maravilhoso, eu tinha 19
anos, contra os 33 dele. Eu havia “aportado” em São Paulo 10 meses antes. Ele já ostentava sua maestria– diariamente – havia 10 anos, sempre acompanhado do
grito A BOLA DA VEZ!
“A bola da vez” : uma expressão significativa
“A bola da vez” : uma expressão significativa
Os dicionários trazem uma acepção diferente para a
expressão "A bola da vez": ― alguém
que vai ser cortado, ou que está prestes a ser cortado de uma equipe; ou de um time; ou de
uma empresa.
Os dicionários salientam que se trata
de uma gíria muito usada, e dão exemplos como este que se refere a uma situação
empresarial: “O chefe está se indispondo
com o Márcio. Tudo indica que ele será a
bola da vez”
Paulo Guedes:
a bola da vez?
Foto: Adriano Machado / REUTERS |
Depois de Luiz Henrique
Mandetta, demitido da Saúde, e do auto-afastamento de Sergio Moro do Ministério
da Justiça e da Segurança Pública, o ministro da Economia Paulo Guedes passou a
ser considerado “a bola da vez” da fritura feita pela ala ligada aos filhos de Bolsonaro, por insistir no discurso de manutenção da sua política de ajuste fiscal.
Uma nova demonstração da
dependência do governante Messias
Bolsonaro às “orientações ideológicas” dos filhos – os tais O1, O2 e O3 – está ligada a um plano econômico rotulado
de Pro-Brasil.
O embate entre as visões econômicas dentro do governo foi
escancarado publicamente com o tal de Plano Pró-Brasil,
que em um de seus eixos prevê dinheiro público para bancar obras em
infraestrutura.
O ministro chefe da Casa Civil, general da ativa Walter Braga
Netto ― escolhido por Bolsonaro para por em ação um plano econômico para buscar
a recuperação da economia pós-pandemia ― disse na quarta-feira (22 de abril) que “o Pró-Brasil tem como meta o crescimento
socioeconômico e que todos os ministérios estão envolvidos na discussão do
plano”. Mas, no entanto, a principal
chave – o ministro da Economia Paulo Guedes – sequer foi consultado.
Guedes entre os ministros Braga Netto e Augusto Heleno na coletiva de Bolsonaro |
De super-ministro a “comunista”
Foto: Aloísio Maurício - Fotoarena |
Com a resistência do ministro aos planos “desenvolvimentistas” do presidente, os bolsonaristas ligados ao astrólogo Olavo de Carvalho, “guru” de Bolsonaro – residente em Richmond (Virgínia) – querem impor ao ministro Paulo Guedes a pecha de "inimigo dos pobres” e, ao mesmo tempo, de "COMUNISTA"
Pela fragilidade da personalidade de Bolsonaro, pela sua instabilidade emocional, somadas à sua inaptidão total para governar o País, é que o mercado financeiro, avalia que Guedes pode ser a próxima “bola da vez”.
E o que é pior: poderá ser substituído por um deputado do chamado “baixo clero”: Roberto Jefferson, Valdemar Costa Neto, por exemplo. Ou até (quem sabe?) a “super-star” deputada Carla Zambelli.
Imagem: TV Brasil / Divulgação: TV Globo |
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