domingo, 26 de abril de 2020


A BOLA DA VEZ

― Fontes: The Financial Times / Época Negócios / The Economist / O Estado de S. Paulo / Folha de S. Paulo /Jornal da Cultura Jornal do Brasil 
Foto:  miss Treechada Yoksan  /  Shutterstock.com

Na Sinuca, esse maravilhoso jogo de mesa, taco e bolas praticado no Brasil (e que constitui uma variante do snooker, inventado em 1875 na Grã-Bretanha), dois adversários, ou mais, tentam colocar num dos seis buracos da mesa as bolas coloridas numa seqüência definida pelas regras.  Após encaçapada,  a bola da vez não retorna ao jogo.
Dissemos acima que a sinuca é um jogo maravilhoso.  Também, com esse mesmo adjetivo, era rotulado um Salão de Jogos de sinuca:  Maravilhoso.  Um nome mais do que feliz.  E a razão é simples: de todos os salões de sinuca que já fizeram a alegria dos aficionados por esse jogo de salão na cidade de São Paulo, o Maravilhoso foi o melhor.   Sem exagero.

Um templo da sinuca
Foto:  Arquivo do blog 
Para aquela confraria, nos anos 60 e 70. composta por: desocupados, estudantes,  executivos, aposentados, publicitários,  bicheiros, jornalistas, e outros tipos da fauna paulistana, o Maravilhoso era solo sagrado.   A começar pela sua localização.  Exatamente nos dois pontos mais míticos da cidade: – as avenidas Ipiranga e São João.  Onde, algum tempo depois, o compositor baiano Caetano Veloso, iria derramar toda a sua poesia apaixonada.
Ali ficava ele, o Maravilhoso, do lado esquerdo de quem subia a avenida  Ipiranga em direção à São João,  no número 878, pouco depois do terminal do Expresso Luxo e pouco antes do Bar e Restaurante Avenida.

Os maestros do encantamento regiam o espetáculo, sem hipocrisia

Diversão, sem frescuras!”  Esse bordão, aparentemente simples,  tornou-se indelével na memória de todos aqueles que iam ao Maravilhoso para se emocionar com as jogadas desconcertantes de tão magníficas, dos mágicos:   Carne-Frita,  Quincas, Leão, Gaguinho, Boca Murcha, Mané Português, Jota Cristo, Zé Tigrão, Ceará, Rui Mogi (que mais tarde ficaria famoso como Rui Chapéu).  e outras "peças raras" da casa. 
Um bando de fazer qualquer zoológico, hospício ou delegacia morrer de inveja. E de deixar qualquer trabalhador incauto sem um tostão furado no bolso. Porque no Maravilhoso o jogo era jogado a dinheiro. E este corria mais rápido do que uma bola sete no fundo da caçapa.

Carne-Frita e A BOLA DA VEZ  

Walfrito  Rodrigues dos Santos, o Carne Frita  -  Google Images
Ele nasceu em 29 de outubro de 1929.  Era uma tarde sergipana de domingo.  Na pia batismal da capela,  e depois no cartório de Propriá os pais deram-lhe o nome de Walfrito Rodrigues dos Santos.  O nome recebido  Walfrito ― ele carregou por 90 anos, associado ao apelido Carne-Frita,  cunhado-lhe por um palhaço circense que fizera um trocadilho com a segunda sílaba de seu nome. e juntando-a ao símbolo de sua aguda magreza causada pela miséria e fome.
A partir dos 10 anos, tornou-se um atento observador das tacadas dadas numa mal ajambrada mesa de bilhar de um boteco em Propriá.  Aos 15 já demonstrava sua agilidade de encaçapar todas as bolas coloridas, antecipando-lhe o altíssimo grito: ― A BOLA DA VEZ!  e que se tornaria sua marca registrada. 
Walfrito  Rodrigues dos Santos, o Carne Frita  -  Google Images
Quando o conheci no salão de bilhar Maravilhoso, eu tinha 19 anos, contra os 33 dele. Eu havia “aportado” em São Paulo 10 meses antes.  Ele já ostentava sua maestria– diariamente – havia 10 anos,  sempre acompanhado do grito A BOLA DA VEZ! 

A bola da vez” : uma expressão significativa

Os dicionários trazem uma acepção diferente para a expressão "A bola da vez":  alguém que vai ser cortado, ou que está prestes a ser cortado de uma equipe;  ou de um time;  ou  de uma empresa.
Os dicionários salientam que se trata de uma gíria muito usada, e dão exemplos como este que se refere a uma situação empresarial: “O chefe está se indispondo com o Márcio. Tudo indica que ele será a bola da vez”

Paulo Guedes:  a bola da vez?
Foto: Adriano Machado / REUTERS
Depois de Luiz Henrique Mandetta, demitido da Saúde, e do auto-afastamento de Sergio Moro do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, o ministro da Economia Paulo Guedes passou a ser considerado “a bola da vez” da fritura feita pela ala ligada aos filhos de Bolsonaro,  por insistir no discurso de manutenção da sua política de ajuste fiscal.
Uma nova demonstração da dependência do governante  Messias Bolsonaro às “orientações ideológicas” dos filhos – os tais O1O2O3 – está ligada a um plano econômico rotulado de Pro-Brasil. 

 Embate
embate entre as visões econômicas dentro do governo foi escancarado publicamente com o tal de Plano Pró-Brasil, que em um de seus eixos prevê dinheiro público para bancar obras em infraestrutura.
Guedes entre os ministros Braga Netto e Augusto Heleno na coletiva de Bolsonaro
O ministro chefe da Casa Civil, general da ativa Walter Braga Netto ― escolhido por Bolsonaro para por em ação um plano econômico para buscar a recuperação da economia pós-pandemia  disse na quarta-feira (22 de abril) que o Pró-Brasil tem como meta o crescimento socioeconômico e que todos os ministérios estão envolvidos na discussão do plano”.   Mas, no entanto, a principal chave – o ministro da Economia Paulo Guedes  sequer foi consultado.
De super-ministro a “comunista” 
Foto: Aloísio Maurício - Fotoarena

Com a resistência do ministro aos planos “desenvolvimentistas” do presidente, os bolsonaristas ligados ao astrólogo Olavo de Carvalho, “guru” de Bolsonaro – residente em  Richmond (Virgínia) – querem impor ao ministro Paulo Guedes   a pecha de  "inimigo dos pobres” e, ao mesmo tempo, de "COMUNISTA"

Pela fragilidade da personalidade de Bolsonaro,  pela sua instabilidade emocional, somadas à sua inaptidão total para governar o País, é que o mercado financeiro, avalia que Guedes pode ser a próxima “bola da vez”.    

E o que é pior: poderá ser substituído por um deputado do chamado “baixo clero”: Roberto Jefferson, Valdemar Costa Neto, por exemplo.  Ou até (quem sabe?) a “super-star” deputada Carla Zambelli.
 

Imagem:  TV Brasil / Divulgação: TV Globo



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