13/fevereiro/2017 as 8h15
Lula
tenta convencer PT a superar discurso do ‘golpe’
Ex-presidente deve assumir presidência do partido
após período de luto pela morte da mulher
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Edilson Dantas / Agência O Globo / 9-2-2017 |
Preocupado
com a sobrevivência política do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
tenta convencer o partido de que, depois de quase quatorze anos no comando do
governo federal, a sigla não pode voltar a ter uma atuação apenas de
contestação, e sim fazer uma oposição propositiva. Quase seis meses depois do
impeachment da presidente Dilma Rousseff, Lula considera que é preciso ir além
do discurso do “golpe”.
— Nós
ficamos gritando “Fora Temer” e o Temer está lá dentro. Gritamos “não vai ter
golpe” e teve golpe. Estamos gritando contra as reformas e eles estão aprovando
as reformas em tempo recorde — disse Lula, ao discursar, no último dia 19, no
lançamento do 6º Congresso Nacional do PT, que discutirá em junho os rumos do
partido.
Quinze dias
depois desse discurso, Lula abriu diálogo com o presidente Michel Temer, que
foi prestar condolências pela morte de sua mulher, Marisa Letícia. No PT, tanto
as alas à esquerda quanto o campo majoritário, tentaram minimizar o encontro,
classificando-o de protocolar. Os petistas tentam implodir qualquer
possibilidade de desdobramento político.
Já o entorno
de Temer é entusiasta da continuidade do diálogo, embora afirme que não há
perspectiva de nova conversa no curto prazo. Auxiliares do presidente afirmam
que a única pauta comum possível é a reforma política. Apesar da torcida
petista contra, um ministro de Temer ressaltou que é da natureza de Lula a
composição política.
Recentemente,
o ex-presidente já havia contrariado a militância e a esquerda do PT ao
orientar o apoio às candidaturas do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do senador
Eunício Oliveira (PMDB-CE) às presidências da Câmara e do Senado. O objetivo
era garantir cargos na Mesa Diretora das duas Casas e evitar que o PT ficasse
ainda mais isolado politicamente. A reação da militância levou a direção
nacional do PT a recuar e recomendar a união das esquerdas. Na Câmara, o
partido acabou apoiando a candidatura do deputado André Figueiredo (PDT-CE), e,
no Senado, a bancada rachou.
DEDICAÇÃO
AINDA MAIOR À POLÍTICA
Lula deve
mergulhar ainda mais de cabeça na política após a morte da mulher. A
expectativa de aliados mais próximos é que a perda da ex-primeira-dama não
mudará a sua disposição de assumir a presidência do PT, na metade do ano, como
vem sendo articulado pelos principais caciques da legenda.
No entorno
de Lula, há ainda quem acredite que o petista vai agora colocar o pé na estrada
para percorrer o país, até como uma forma de ocupar a cabeça. O ex-presidente
já vinha ensaiando esse giro pelo Brasil desde o início da crise que levou ao
impeachment de Dilma, mas nunca chegou a concretizar o plano.
Marisa
implicava com as viagens e com as agendas do petista no final de semana. Por
outro lado, era favorável que ele retomasse o comando do partido, posto que
ocupou até 1994.
Lula tem
defendido que os petistas se engajem em discussões sobre política econômica,
como geração de emprego e renda, retomada do crescimento, e sobre reforma
política, especialmente financiamento de campanhas eleitorais. Para o
ex-presidente, o PT tem que aproveitar os supostos retrocessos promovidos por
Temer, como a PEC do Teto de Gastos, para construir seu discurso. Lula quer
reunir economistas, especialistas em políticas públicas e gestão governamental
para preparar desde já um programa de governo para 2018.
— O Lula,
por natureza, é muito prático. Ele está pensando no futuro, em como juntar os
cacos do PT, construir um projeto e ir para a rua. Ele quer ser presidente de
novo — disse uma pessoa próxima do ex-presidente.
Lula vinha
discutindo, antes da morte de Marisa, o melhor momento para colocar na rua a
sua candidatura à Presidência da República em 2018. A expectativa é que isso
aconteça durante o congresso da legenda, em junho, o mesmo que deve sacramentar
a sua indicação para comandar o PT.
Resistente
inicialmente à ideia de voltar ao comando formal do PT, temendo que as
investigações contra ele contaminassem a legenda — Lula é réu em cinco ações na
Justiça — o ex-presidente deu, desde o final do ano passado, sinais de que vai
encarar a missão para evitar um racha que poderia ser mortal para o partido que
fundou em 1980.
Com Lula,
mesmo grupos que fazem oposição ao atual comando do PT e defendem alterações
radicais na forma de condução do partido, como o Muda PT, desistiriam de lançar
candidato para presidir a legenda. Além da unidade em torno de seu nome, o
ex-presidente também exige, para aceitar a missão, que as correntes apresentem
os seus melhores nomes para compor a Executiva Nacional, numa forma de
fortalecer a direção.
Um dos
movimentos que indicam a disposição de Lula de presidir o PT foi a articulação
endossada por ele para que Luiz Marinho, ex-prefeito de São Bernardo, assuma o
comando do partido em São Paulo. Por ser um dos melhores amigos de Lula na
política, Marinho seria a principal opção para a presidência nacional, caso
Lula não quisesse o posto.
O discurso
feito no velório de Marisa, no dia 4, já deu sinais de que Lula não vai
abandonar o embate político. Na ocasião, disse que não tem "medo de ser
preso" e que "vai brigar" contra os que "levantaram
leviandades" sobre a mulher.
Na missa de
sétimo dia da ex-primeira-dama, realizada na última quinta-feira, Lula mostrou
que não vai deixar a política nem momentaneamente. Presente à cerimônia, o
senador Lindbergh Farias (PT-RJ), por exemplo, foi convocado pelo ex-presidente
para uma reunião na dia seguinte.
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